Trabalhava eu numa tapeçaria onde, por incrível que pareça, vendíamos tapetes. Tínhamos para todos os gostos: grandes, médios, pequenos, minúsculos e enormes.
Tínhamos caros, baratos, de um e noventa e nove e com preços absurdos.
Portanto, nossa clientela era a mais diversificada possível.
Pense em uma pessoa famosa. Se gosta de tapetes, já passou por lá.
Sabe aquele seu vizinho que acha elegante ter um tapete na sala?
Já deve ter passado por lá.
Estava eu em um sábado à noite, já contando os minutos para fechar a loja e ir embora, quando entrou uma senhora muito bem vestida e com ares de dama da alta sociedade.
- Boa noite – começou ela – Aqui vende tapetes?
Deveria eu, pelo teor da pergunta, já imaginar que coisa boa não sairia desta história mas, solicitamente, respondi que sim e perguntei de qual tipo ou tamanho ela preferia.
- Sabe que não sei. Me mostre o mais caro e o mais barato que você tem.
Peguei o tapete de um e noventa e nove, escrito “Bem-Vindo” e o aveludado, com plumas de faisão que tenho até vergonha de dizer o preço aqui e mostrei à minha distinta cliente.
Ela os olhou, sem tocar, com ar reflexivo durante alguns segundos.
- Esse mais felpudo, você tem de qual tamanho?
Mostrei-lhe os quatorze tamanhos diferentes que tínhamos daquela variedade de tapetes. Ela, mais uma vez, olhou com ar reflexivo e, sem tocar em nenhum deles, fez mais uma pergunta:
- Deste tamanho – apontou para um deles – você tem em quais cores?
Fui no depósito e trouxe uma variedade de doze tonalidades de cores diferentes do mesmo produto e lhe mostrei um por um.
Enquanto ela olhava, sem tocar os tapetes, eu olhava, sem tocar, o relógio e constatava que já havia ultrapassado em cinco minutos o horário de fechamento da loja.
Mas, cliente é cliente e, eu jamais poderia coloca-la para fora por causa de alguns minutinhos.
Após refletir sobre as cores do modelo que mostrei, ela coçou o queixo e falou com bastante naturalidade:
- Gostei não. Me mostra outro modelo?
Comecei então a mostrar todos os modelos que dispunha na loja e ela, a todos olhava sem tocar, pedia para ver os tamanhos e as cores e, de nenhum gostava.
Já se passavam quarenta minutos do meu horário de fechamento e a criatura não se decidia.
Juro a vocês que, mostrei desde o mais caro ao de um e noventa e nove, em todos os tamanhos e cores e de nenhum ela se agradou.
Já começava a olhar o relógio com impaciência, pois, estava louco para ir embora após um dia inteirinho de trabalho.
- Você pode me mostrar de novo as cores daquele primeiro que você mostrou quando cheguei?
Já não tão pacientemente, tornei a pegar os tapetes e, novamente mostrei todos a ela.
Ela levou, juro por Deus, uns quinze minutos olhando os tapetes até me dizer que, realmente não tinha gostado de nenhum.
- Que horas esta loja fecha? – perguntou finalmente.
- Já era para estar fechada a mais ou menos uma hora atrás. Só estou esperando a senhora resolver qual vai querer comprar.
- Comprar? Não vou comprar nenhum não. Só estou esperando a igreja abrir e, como não tinha nada para fazer, resolvi esperar na única loja que ainda estava aberta. Na verdade, sou alérgica a tapetes, por isso que nem toquei neles.
Depois deste dia, comecei a frequentar um psicanalista.
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