quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Azar em Dobro


Existem pessoas que são agraciadas com uma sorte incrível.
Tudo dá certo para estas pessoas e, a vida segue quase beirando a perfeição.
Já outras dão um azar que, contando, ninguém acredita.
Esse é o caso de Eutiquio.
O coitado já foi premiado pelos pais com este singelo, angelical e nada bonito nome e, para terminar de completar a miséria, desde criança foi associado ao bairro onde nasceu, cresceu e se estabeleceu.
As pessoas simplesmente se recusavam a chamá-lo de Eutiquio Ferreira Monteiro. Era impossível para todos os que o conheciam, usar este nome.
Para todos ele era simplesmente, Quinho do Pau Miúdo.
Por mais que ele protestasse, o apelido pegou.
- O senhor sabe onde mora o senhor Eutiquio Ferreira?
- Conheço não.
- Quinho do Pau Miúdo, o senhor conhece?
-Aaaaaah, o Quinho eu sei quem é!
Certa vez, resolveu se candidatar a vereador usando o nome “Quinho Monteiro” e, foi um fracasso total. Ninguém sabia quem era esse cidadão e, seus votos foram dados apenas por aqueles que já o conheciam a ponto de saber seu nome completo. Perdeu a eleição.
Um amigo, o tal de Nestor que falei em outra Crônica, certa vez pediu uma música em uma estação de rádio e ofereceu para o amigo Quinho do Pau Miúdo. A amizade acabou.
E quando ia preencher alguma ficha que pedia endereço?
Dizia o nome da rua e o número da casa, tranquilamente.
- E o bairro? De onde o senhor é?
Muito constrangido, o pobre Eutiquio respondia:
- Sou do Pau Miudo.
Eram raros os entrevistadores que não faziam cara de riso.
Como sofre o pobre Eutiquio!
Não que o Pau Miúdo seja um bairro ruim. Aliás, Quinho tinha muito carinho pelo seu local de nascimento, só achava que a associação com seu nome acabava por atrapalhar o andamento de sua vida.
Para piorar sua situação, conseguiu um trabalho como motorista de ônibus.
Mas o que tem de errado com esta profissão? Nada para as outras pessoas e tudo para o pobre Quinho.
Sempre que entrava em seu bairro dirigindo o veículo, os moradores o recebiam aos gritos de “ô Pau Miúdo”!
Até psicólogo o pobre Eutiquio teve que procurar.
Quando casou e teve filhos, resolveu se mudar para que seu futuro filho, não passasse pelos mesmos traumas que ele passou.
Inclusive, se recusou firmemente a ter um filho enquanto não mudasse de bairro, e preferencialmente de cidade.
Foi então que recebeu uma promoção da empresa onde passou a trabalhar após ter saído da função de motorista de ônibus e, com esta promoção, veio a realização do sonho de sair daquele bairro que tanto lhe constrangia.
Pulou de alegria com a notícia. Alegria esta que só durou até ler o nome da cidade onde passaria a trabalhar.
O senhor Eutiquio Ferreira Monteiro, funcionário desta empresa, através desta concorda em ser transferido, por motivos de mudança de cargo para a unidade localizada na cidade de Pintopólis, em Minas Gerais.
Quinho precisou de mais dois meses de terapia.

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