Invoquei que ia aprender a dirigir.
Me matriculei em uma autoescola e, decidido que sou fiz todas as aulas, práticas e teóricas, aprendendo tudo e me preparando para o dia do teste final onde, seria aprovado para tirar a carteira. Ou não.
No dia marcado fui, até com certa tranquilidade, ao local da prova prática. Estava tranquilo, calmo e confiante de meu potencial. Como dizia a música antiga: estava tudo bem bonito para chamar atenção, até que eu fui apresentado ao instrutor.
Quando aquele homem me olhou pela primeira vez, parecia que ele me conhecia de algum lugar e, tive a impressão que, se realmente me conhecesse, não seria de boas lembranças. A cara carrancuda e o olhar intimidador até que não me assustaram. Esse tipo de gente “como todo dia no café da manhã”.
O problema mesmo era aquela sensação de inimizade que ele passava.
Como não sou homem de ficar intimidado por macho nenhum, encarei com firmeza seu olhar de vilão de filme de bang-bang, fiz uma cara mais fechada que a mão de meu primo casquinha e, secamente, o cumprimentei.
Entramos no carro e o pesadelo começou.
- Não colocou o cinto – resmungou, enquanto anotava na prancheta.
- Mas eu ainda nem entrei no carro direito – protestei.
- E não verificou o retrovisor – continuou como se eu não existisse.
Fiz um bico maior que o de um beija-flor, apertei o cinto, ajeitei o retrovisor e comecei a prova.
- Não olhou para os dois lados antes de entrar na rua – mais uma vez resmungou e anotou na maldita prancheta.
- Mas eu ainda nem sai na rua!
- Não presta atenção no trânsito e fica conversando com o carona.
Já estava a ponto de arrancar aquela marcha e dar na cabeça daquele cidadão, porém, respirei fundo e continuei a dirigir.
Mais à frente, próximo a um quebra-molas, um infeliz de um cachorro resolveu atravessar a rua, de repente, na frente do carro que eu dirigia. Pisei bruscamente no freio e, juro por Deus que, o cidadão se atirou contra o para-brisa de propósito, ao ponto de quase arrebentar o cinto com todo aquele peso de sua figura obesa.
- Continua desatento e não viu o quebra-molas. Receio que não irei terminar este teste vivo – resmungou, novamente anotando na prancheta.
- Não é possível que você não tenha visto o cachorro passar correndo na frente do carro – protestei – Você preferia que eu atropelasse o animal?
- Aparentemente veio fazer o teste sob efeito de álcool e ainda desrespeitou o examinador, chamando-o de animal – anotou mais uma vez enquanto resmungava. E assim foi durante todo o exame.
Bastava eu respirar que o cara achava uma falha e anotava naquela maldita prancheta, a qual eu já havia quebrado em sua cabeça umas vinte vezes, em meu pensamento. Ao descer do carro, procurei nem dizer nada àquele cidadão abençoado porque, se dissesse, acabaríamos em vias de fato, tamanho era o ódio que eu estava dele. No final, logicamente fui reprovado.
De cabeça quente e me dirigi até a saída. Foi neste momento que, um funcionário do departamento de trânsito, veio correndo em minha direção.
- O examinador pediu para te entregar este papel.
Abri e li o que estava escrito:
“Este é um dia para que você nunca se esqueça. Há treze anos atrás, você namorou minha filha. Te acolhi em minha casa e como você me agradeceu? Engravidou minha filha, furtou dinheiro em minha casa, agrediu meu irmão, quebrou meu jarro favorito, queimou meu sofá com seu cigarro fedorento e contratou um carro de som apenas para gozar com minha cara porque meu time caiu para a segunda divisão. Pois saiba que, o mundo dá voltas e hoje você pagou por um pouco do que fez. Enquanto eu for examinador aqui, Jaime, você nunca terá uma carteira de motorista”.
- Tem certeza que isso foi para mim?
O funcionário confirmou com um balançar de cabeça.
Em tempo, meu nome é Pedro, sou gay e nunca namorei a filha de ninguém.
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