Nunca fui muito bom em aprender linguagens. Sei o português e para por aí.
Mas, ultimamente tenho sido obrigado a decifrar os segredos de um novo idioma, por força das circunstâncias.
E não é inglês, espanhol ou mandarim. Não é por causa de necessidade de trabalho ou para me comunicar em outro país, por causa de férias.
Nada disso. Por conta de necessidades familiares, estou me tornando amplo conhecedor em Bebêabá.
E o que é Bebêabá?
Bebêabá é a forma como eu chamo a linguagem criada por Luan, meu netinho de um ano e dez meses.
Bonitinho e esperto que só ele, assim como todas as crianças, antes de aprender a linguagem que nós adultos os ensinamos, criou a sua própria.
Primeiro ele arranjou um nome para mim em seu inusitado idioma: de Jorge, virei Uvú. E eu que me atreva a não responder quando sou chamado assim...
A segunda palavra que tive que conhecer foi Gaguim.
- Uvú – falou batendo com a mãozinha em minha perna – Gaguim.
Cocei a cabeça, pensativo.
O que seria um Gaguim?
Na falta de uma resposta satisfatória de minha parte, ele repetiu já sem muita paciência:
- Uvuuuuú, Ganguim!
- Eu não sei o que é Gaguim – tentei argumentar.
Impaciente, fez aquele gesto com a mão, característico de quem chama outra pessoa para segui-lo.
Acompanhei ele até a cozinha, onde me apontou o copo com o mingau e repetiu, com menos paciência ainda:
- Gaguim, Uvuuuuú!
Só então consegui descobrir que Gaguim era o mingau dele.
Moro muito próximo do aeroporto e, por isso, é muito comum os aviões passarem voando relativamente baixo por cima de minha residência.
- Uvú – me disse ele, certo dia – E aí?
Uvú já sabia que era eu mas, fiquei surpreso em ser cumprimentado desta forma por uma criança de tal idade.
- E aí? – respondi rindo.
Foi quando me puxou pelo braço até a varanda e me mostrou a aeronave que passava naquele exato momento.
- E aí – apontou sorrindo.
Percebi então que, no idioma dele, “e aí” era um avião.
Em outra ocasião, estava eu deitado em minha cama quando ele entrou no quarto me chamando, com aquele mesmo gesto com a mão.
- Uvú!
Levantei e o segui até a varanda, onde estavam minhas duas filhas.
- Uvú – ele disse, em tom choroso – gonhon minhon gurum caquim.
- Hã?
Foi então que a mãe dele explicou:
- Ele queria sentar no chão e eu não deixei. Aí ele resolveu te chamar para fazer queixa de mim.
Agora já sei que “gonhon minhon gurum caquim” é uma queixa.
Outras palavras ele aprendeu direitinho, para desgosto de sua mãe, torcedora do glorioso Esporte Clube Vitoria.
- Nenê torce para que time?
- Bahia – ele responde, de forma bem explicadinha.
E não adianta ficar insistindo porque, ele resolveu que é torcedor do Bahia, e ponto final! Na minha opinião, isso ele não precisava aprender.
Mas, para finalizar, tenho que falar de algo que ele realmente gosta e muito: o Grrragum.
Grrragum é qualquer tipo de veículo, motorizado ou não.
Passa o entregador de pizza em uma moto?
É um Grrragum.
O caminhão do gás?
É um Grrragum.
Alguém de bicicleta?
Também é um Grrragum.
O problema começou quando meu cesto de guardar roupas sujas também virou um Grrragum.
Quando me distraio, toda a roupa vai para o chão e, o cesto vira um Grrragum para ser empurrado por toda a casa.
Esses dias, tive que aposentar o cesto pois, desconfio que Luan não é um bom motorista: saiu para dirigir o Grrragum de roupas sujas e depois voltou com ele todo quebrado.
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