quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Cervejisticamente Falando


Astolfo sempre foi o típico brasileiro: acredita no que a TV fala, acha que tudo que ele não gosta (ou não pode fazer) é pecado, divulga notícias sem pesquisar (e a vezes sem sequer ler), gosta de novela (que assiste escondido para que os vizinhos não comentem que isso não é coisa de homem) e adora futebol. Enfim, o cidadão comum.
Outra paixão de Astolfo é a cerveja e, como todo cidadão-padrão, muda de marca e de gosto de acordo com sua situação financeira no momento.
Lá pelos idos dos anos 80, quando haviam apenas duas opções, ele tinha Antarticofobia:
- Essa cerveja é muito ruim! Cerveja boa e de homem retado é a Brahma!
Com o passar do tempo, as coisas foram mudando e surgiram outras marcas e, com elas vieram outras opções. Astolfo mostrou que não tinha mais porque ser fiel a velha Brahma e, com a decadência financeira, mudou para a “novata” Skol:
- Essa é mais leve. A que eu bebia era muito pesada.
A paixão pela Skol só durou até as coisas melhorarem. Com a nova situação financeira, começou a beber a cerveja da classe média em ascensão:
- A Skol ficou ruim! Onde já se viu misturar na mesma fábrica a Brahma, a Antartica e a Skol? Mistura as boas com as ruins e nivela por baixo. Agora só bebo Bohemia.
Eis que veio uma nova crise e, o gosto tornou a mudar:
-Para dizer a verdade, eu nem gostava muito da Bohemia. Cerveja muito doce. Doce e cara. O negócio é beber Schinkariol que é mais forte e bem mais barata. Não tem custo-benefício melhor.
Passou mais um tempo e, a vida financeira piorou mais um pouquinho:
- A Schin trocou de dono e ficou horrível! Agora só bebo Itaipava: levinha, não dá ressaca...
Aí veio o Lula, um emprego novo e um pouco mais de dinheiro.
Tentou as artesanais que estavam na moda, mas não deu para acompanhar a tendência:
- Parece que estou bebendo chá de alho...
Com dinheiro sobrando, decidiu experimentar uma outra que estava na moda no momento:
- Essa sim é uma cerveja de qualidade! Garrafa bonita, puro malte, amargando do jeito que eu gosto, patrocina o campeonato de futebol e, eu já falei que tem uma garrafa bonita? Agora só bebo Heineken!
Mas, na verdade a cerveja amargava demais e, ele resolveu trocar por outra que mantivesse seu nível:
- Agora só bebo Corona! Cerveja deliciosa!
Veio o desemprego e uma nova crise financeira, juntamente com a maldita pandemia e, a cerveja cara teve que ser abandonada novamente:
- Eu vou lá beber uma cerveja com nome de doença? Preciso de coisas mais leves em minha vida e, por isso, agora só bebo Crystal.
Um dia Astolfo passou um pouco dos limites alcoólicos e, alguém que tinha acompanhado todas essas mudanças na vida dele, resolveu tirar a dúvida.
- Astolfo, me diz a verdade: deixando de lado a moda, a situação financeira e tudo mais, qual é de verdade a cerveja que você mais gosta?
Já meio grogue e sem conseguir dominar seu cérebro e sua língua, nosso bom cidadão acabou confessando:
-Nenhuma! Olha, eu nem gosto muito de cerveja, mas bebo só para ostentar. Meu negócio mesmo é um Pitú com limão. Isso que é bebida de homem!

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