quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Metamorfoseando


Esta noite, eu tive um sonho de sonhador e maluco que sou, eu sonhei.
Sonhei com um velhinho sentado na calçada, com uma viola na mão e eu parei para ouvir. Ele agradeceu a atenção e me falou de uma história, que foi mais ou menos assim:
“Nestes dias em que a Terra parou, onde todas as pessoas do planeta inteiro sabiam que ninguém deveria sair de casa e, como que combinado ninguém ficou em casa, quando em plena segunda-feira decretamos feriado, corri para um cantinho pra dali sacar o lance de mansinho.
Enquanto todos se esforçam para levar uma vida normal e fazer tudo igual, percebo que esse caminho que eu escolhi é o mais difícil a seguir, porque não tenho aquela velha opinião formada sobre tudo.
Sei que deveria estar contente por ter um emprego e ser um cidadão respeitável, agradecer a Deus por ter que estar sempre tentando ter sucesso na vida mas, confesso abestalhado que já estou cansado.
Eu até tento não ser besta, não agir como herói e sempre disse que não quero ser perfeito e até perdi o meu medo de sair na chuva, mas como uma pedra imóvel na praia, eu sigo com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte, que talvez seja o segredo desta vida, chegar.
Por isso te digo, meu amigo que está sempre a se queixar da solidão: vá pro seu trabalho todo dia mesmo sem saber se é bom ou se é ruim, porque não adianta chorar no banheiro. A vida é séria e a guerra é dura, e não dá para viver sua loucura.
No lixo dos quintais, na mesa do café, no amor dos carnavais sei que estou cantando, porque cantamos todos nós. Só que cada um presta atenção em sua própria voz, a dizer e a falar, de forma diferente o que todo mundo sente. E não pense que eu sou diferente. Eu também sou egoísta e jamais cometo pequenos erros, enquanto eu posso causar terremotos.
E, no auge de minha maluquez, onde eu não sabia mais o que era lucidez, eu vi cair a estrela do céu e tudo parecia ser o momento do juízo final.
Foi quando eu vi um lindo disco voador, de onde saiu um anjo embriagado que jurou que tudo era pecado e que, se prestássemos atenção veríamos que a história mostra que a gente só tenta agradar a Deus fazendo o que o diabo gosta.
Eu respondi que, tudo aqui me falta e a taxa é muito alta, e ele me falou:
- De sua ignorância, em toda circunstância, você tem que se orgulhar de sua vida sem vitórias e dane-se quem não gostar. 
Do passado eu me esqueci e no presente eu me perdi mas sei que nunca se vence uma guerra lutando sozinho e eu não quero mais andar na contramão.
O anjo embriagado em seu disco voador, apenas sorriu.
Triste, eu perguntei:
- Porque cargas d’água você acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu trago em meu peito? Ô seu moço, do disco voador, apenas peço que me leve para onde você for.
- Vê se me entende, olha o meu sapato novo e minha calça colorida. Eu nasci há dez mil anos atrás, vi Cristo ser crucificado e o amor nascer e ser assassinado. Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou as coisas da vida e o medo de amar. Então pluct plact zun, não vai a lugar nenhum”.
Esta noite, eu tive um sonho de sonhador e, maluco que sou, acordei.
Acordei para a realidade da vida e perdi o trem das sete, na linha 743.
Juro que tudo isso aconteceu, mas para aquele que provar que estou mentindo eu tiro meu chapéu.

DEDICADA A RAUL DOS SANTOS SEIXAS 28/06/1945 – 21/08/1989

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