Coisa desagradável é elevador.
Quando sobe, nosso estômago vai para o pé e quando desce, vai bater lá no cérebro.
Você fica trancado numa caixa de metal, sozinho ou com outras pessoas, pendurado por cabos e, a não ser que a operadora de seu celular tenha um sinal maravilhoso, você fica incomunicável.
Aconteceu que, certo dia, estavam cinco pessoas em um elevador e este, resolveu parar no meio do caminho, entre um andar e outro.
Primeiro veio o susto, depois o pânico, depois as orações, depois os xingamentos e, por fim, os famosos “isto é um absurdo”, “a culpa é de Bolsonaro” e “com o PT era pior”.
Após uma acalorada discussão sobre qual dos dois políticos era responsável pela parada do elevador, os cinco cidadãos perceberam que o ar condicionado também tinha parado e o calor estava batendo forte.
Resolveram então gritar e esmurrar as paredes para ver se alguém os ouvia e os acudiam, tirando-os daquela embaraçosa situação.
Se aquilo tinha resolvido ou não, ninguém sabia.
Nervoso, Teobaldo tirou um maço de cigarros do bolso.
Arlindo, foi o primeiro a protestar:
- Você é louco? Vai fumar aqui? Quer matar todo mundo sufocado?
- Não vou fumar – respondeu trêmulo Teobaldo – Só coloco o cigarro na boca quando estou nervoso.
Anjelina começou a chorar desesperadamente.
- Eu sou hermafrodita!
Todos a olharam abismados, mas foi Benedito que tomou a palavra:
- Senhora, o que tem seus órgãos genitais a ver com nossa situação atual?
- Não seja burro! – gritou irritada Anjelina – Estou dizendo que tenho medo de lugares fechados!
- Ah, a senhora é claustrofóbica.
- E não foi isso que eu disse?
Clodoaldo, preocupado, apenas olhava para o relógio.
O tempo foi passando e, os minutos viraram meia hora. O calor aumentava e nenhum sinal de ajuda.
Teobaldo já estava no sexto cigarro apagado, Arlindo estava seis vezes mais incomodado, Anjelina estava seis vezes mais desesperada, Clodoaldo continuava a olhar para o relógio e Benedito sentou e dormiu.
Súbito, o pior aconteceu.
O que pode ser pior que um elevador enguiçado com o ar condicionado sem funcionar? Um elevador enguiçado com o ar condicionado quebrado fedendo a pum.
E não foi uma flatulência qualquer. Foi uma daquelas que, quando liberadas, urubu começa a voar em círculos em cima da cabeça da pessoa.
E em um ambiente fechado era mais poderosa que uma bomba de gás lacrimogênio.
- Mas que p* é essa? – gritou Benedito acordando – O elevador caiu dentro de uma fossa ou morremos e este é o fedor do inferno?
Teobaldo tossiu, mesmo com o cigarro apagado, e quase o engole.
- Minha hermafrodita tá piorando! – gritou Anjelina – Estou sufocando!
- É claustrofobia – respondeu Arlindo.
- É um esgoto a céu aberto! – chorou Anjelina.
E Clodoaldo apenas olhava o relógio.
- Vamos instaurar uma CPI aqui para descobrir quem foi o autor desta tentativa de homicídio coletivo – rosnou Benedito – Preciso processar alguém por ter me acordado tentando me matar.
Passaram-se mais quinze minutos e, o fedor sobrenatural aparentemente tinha se dissipado, para a Glória de Deus e para o bem da saúde de todos.
Foi então que, o fedor voltou mais forte que nunca.
- Tenho certeza que isso é coisa deste Bolsominion safado!
- Minha mesmo não! Petistas comunistas que tem o hábito de lidar com bombas químicas e, isto é claramente uma destas bombas.
- Alguém comeu ovo cozido estragado, só pode!
- Não dá para pedir licença e sair do recinto?
- Sair como, idiota? Estamos em um elevador pifado.
Clodoaldo, que só olhava as horas, finalmente resolveu falar.
- Quem está soltando pum é essa senhora claustrofóbica.
Todos pararam e olharam abismados para o homem.
- Como você sabe? Perguntou Benedito? Está contando o tempo entre um pum e outro e deduziu isso? Você é um detetive?
- Não, apenas sei.
E aí começou o foi ela, não fui eu, foi ela, não foi ela, foi você, eu não, foi você sim, foi sua mãe...
Ocorreu que, neste momento, a equipe de manutenção conseguiu abrir a porta do elevador.
- Que fedor é esse? – falou um dos operários – Tem algum defunto aí dentro? Deus me livre!
A discussão parou e todos correram para sair de dentro daquela caixa infernal e fedorenta.
Quando todos já estavam do lado de fora, um homem engravatado veio correndo e, aproximando-se de Clodoaldo, o homem do relógio, e falou:
- Doutor o senhor está bem? Estava preocupado. Já passou do horário de tomar seus remédios para evitar as flatulências.
- Não sei de que você está falando – respondeu desconfiado.
- Como não, doutor? Seu problema crônico de flatulências que só se resolve tomando os medicamentos de hora em hora.
- Ah, miserável! E ainda acusou a pobre mulher!
Foi a última frase que ouviu antes de acordar na enfermaria do hospital.
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