Depois de passar a vida toda em uma cidadezinha calma, pacata, tranquila e silenciosa, arrumei um trabalho e tive que me mudar para a metrópole.
Estranhei tudo: o tamanho, a quantidade de gente, o trânsito alucinado, a falta de educação e cordialidade das pessoas, a altura dos prédios...
Mas, nada me assustou mais que o que passei nas ruas.
Meu novo emprego, por uma infeliz casualidade, era na avenida mais movimentada daquela grande e barulhenta cidade. Desci do ônibus e, saindo da estação, andava distraidamente quando, de repente, ouvi aquele grito medonho, bem no meu pé de ouvido:
- Chiiiiiip da Claro,Tim, Vivo e Ooooooooiiiiiiii!
Confesso que quase saí correndo, tamanho o susto que tomei.
Morrendo de vergonha e com o coração aos pulos, continuei minha caminhada até o prédio onde iria trabalhar. Andei mais alguns metros, bem distraído com a imponência dos arranha-céus quando, repentinamente, um homem pegou em meu braço.
- Valha-me Deus – pensei – meu primeiro dia e já vou ser assaltado.
Quando olhei para o sujeito, ele me falou, de forma ameaçadora:
- O relógio!
Botei a mão no pulso, já com a intenção de entregar meu relógio ao cidadão, quando lembrei que não estava usando nenhum.
- Não tenho, serve a carteira?
- Não vendo carteiras – respondeu o homem – mas tenho este lindo relógio de ouro original para te vender baratinho.
Recusei educadamente e continuei a andar (e ele andando junto comigo, cada vez mais reduzindo o preço do “produto”).
Quando finalmente parecia que tinha me livrado do vendedor de relógios, dei uma olhada discreta para trás, só para garantir que não continuava sendo seguido e, quando olhei para frente, tomei outro susto.
Uma senhora vestida de cigana agarrou minha mão com uma força que, eu juro, jamais imaginei que ela tivesse, olhou nos meus olhos e falou:
- Quer ler a sorte?
Dei um pulo para trás e, mais uma vez assustado, recusei a proposta.
Na verdade, nem sabia que tinha qualquer coisa escrita em minha mão para que alguém lesse.
- Então me dá um trocado?
Por via das dúvidas, dei dois reais para a criatura. Vai que era uma bruxa ou algo do tipo? Sei lá, em cidade grande tudo é diferente...
Não que tenha adiantado muito pois, a criatura ainda me xingou ao arrancar de minha mão o dinheiro:
- Mão de figa dos infernos! Nem para me dar pelo menos cinco reais...
Parei para olhar a velha ir embora e para rezar um Pai-Nosso mentalmente. Vai que é uma bruxa vestida de cigana? Mas quando eu estava na parte do “livrai-nos do mal”, ouvi um grito demoníaco ao meu lado, que me fez tremer feito vara verde:
- Aceroooooolaaaaa de doooois reaaaaais!
Dei um grito de horror com o susto que tomei e pulei para o meio da rua, quase sendo atropelado por um motociclista que vinha na contramão com uma sacola de restaurante (daquelas grandes e quadradas) nas costas.
Ao me desviar da moto, caí por cima de um carro de mão que vinha sendo empurrado por um sujeito, que me olhou com cara de poucos amigos e, de forma nada gentil, me disse:
- Machucou minhas acerolas, vai ter que pagar.
Gastei dez reais com esse acidente.
Suado, assustado, com a pressão elevada e fedendo a acerola, cheguei ao trabalho depois de tomar mais outra dezena de sustos e passar por outras situações que tenho até vergonha de contar aqui.
Pedi demissão no mesmo dia e, de lá fui direto para um hospital com tremedeiras em todo o corpo.
Voltei no dia seguinte para minha terrinha e estou sobrevivendo muito bem trabalhando na mercearia do velho Heitor.
Capital? Nunca mais, nem a passeio.
Lá é muito barulhento e tem doidos demais para o meu gosto.
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