sábado, 15 de outubro de 2022

O Influenciador



Resolvi ser influenciador. 
Na verdade, descobri que isso é algo que sempre fui. 
Lembro que, quando criança, minha professora sempre dizia:
- Astolfo, você é uma má influência para seus colegas. 
Além disso, minha esposa sempre diz:
- Nossa, como você fala bobagens!
Então, motivado pela experiência que carrego desde criança em ser uma má influência e pela constatação de que, falar besteira é comum no meu cotidiano, tomei a decisão de me tornar, oficialmente, um influenciador.
Aliás, influenciador não: influencer. Afinal, tudo em inglês é mais chique do que em nossa língua feia, complicada, atrasada e importada da Europa. 
Peguei meu velho celular, criei um canal no YouTube e comecei a falar sobre os assuntos que mais entendo, domino e sei falar. 
Primeiro, discorri sobre as diversas marcas de cerveja que existem em nosso país. 
Pacientemente experimentei e comentei sobre todas as marcas disponíveis e, no dia seguinte, após acordar com uma pequena ressaca, fui checar as reações do meu público. 
Tinham quatro curtidas e um comentário de minha mãe, perguntando quando eu finalmente ia tomar vergonha na cara e parar de beber. 
Não me fiz de rogado, seja lá o que isso signifique, e parti para fazer outro vídeo. 
Durante meia hora falei fluentemente sobre a diferença dos índios Guaranis para o glorioso Guarani de Campinas, campeão brasileiro de 1978, e de como eles não tem nada a ver com o Lobo Guará ou com o Guaraná Antártica. 
Tive as mesmas quatro curtidas e dois comentários. 
Um era de meu pai perguntando se eu tinha deixado de torcer para o Flamengo e outro era de um desconhecido me oferecendo produtos de qualidade e procedência duvidosas. 
Continuei tentando porque, sou brasileiro com muito orgulho e muito amor, e não desisto nunca e, no terceiro dia, fiz um vídeo tratando sobre a diferença entre o ovo de granja e o de quintal e a diversidade de cores de suas cascas. 
Tive, adivinhem, quatro curtidas e um comentário de meu avô dizendo que eu só falava besteira e estava ensinando tudo errado sobre os ovos. 
Engraçado que eu nem sabia dessa história de meu avô assistir vídeos no YouTube. 
Passei o final de semana pensando sobre o assunto de meu quarto vídeo e, sem muitas opções, fiz uma longa reflexão sobre como o coentro é mais cheiroso que a alfazema. 
Tive as mesmas quatro curtidas e nenhum comentário. 
Já meio desanimado e pensando em desistir, fiz uma última tentativa e, após muita pesquisa, fiz uma transmissão emocionada sobre as diferenças entre o navegador Vasco da Gama e o grandioso Clube de Regatas Vasco da Gama e de como alguém teve a ideia de botar nome de gente em um clube de futebol. 
Tive, pasmem, quatro curtidas e um comentário novamente de meu pai, me xingando por ter feito um vídeo sobre o maior rival do nosso querido Mengão. 
Depois desta, resolvi abandonar de vez esse negócio de influenciador. 
Fiz um último vídeo me despedindo das quatro pessoas que estavam curtindo meu canal e, recebi dois comentários. 
Um, era de meu pai dizendo que eu já ia tarde, me chamando de traidor da Nação Rubro Negra e de filho ingrato. A outra era de minha mãe revelando que as quatro curtidas que eu sempre recebia vinha de quatro contas criadas por ela e, me aconselhando a procurar um emprego e largar desse negócio de querer falar do que não sei. 
Encerrei o canal e, para não dizer que tudo foi ruim, pelo menos provei a minha esposa que eu não era assim tão bom em falar besteira. 
Quem é bom mesmo nisso é o Nair Naturista que tem milhares de seguidores em seus vídeos sobre o dia a dia das caminhadas das formigas em seu quintal. 
Queria muito ter esse talento...

Ontem



Ontem eu não fui trabalhar. 
Nem fui pra faculdade. 
Ontem eu resolvi andar. 
Mas, não andar como faço todos os dias. Não mesmo.
Resolvi andar devagar e aproveitar para olhar as coisas ao meu redor.
Saí de casa e, logo de cara, encontrei um amigo que não via há mais de dez anos. 
- Bom dia, Onofre! – falei entusiasmado – Há quanto tempo não te vejo!
O amigo, meio desconcertado, apenas respondeu:
- Na verdade, você passa por mim todos os dias mas, tão apressado que nem me vê. 
Constrangido, me desculpei. 
- É a correria. 
E, com a promessa de que iria prestar mais atenção quando saísse de casa, me despedi. 
E, por falar em prestar atenção, percebi o quanto minha rua havia mudado!
Tinha uma delicatessen que eu nunca tinha visto antes, um açougue enorme e uma bela casa pintada de rosa e adornada por um lindo jardim de violetas. 
- Como construíram isso em tão pouco tempo? – murmurei baixinho. 
Não tão baixinho pois, uma velha senhora que estava ao meu lado, comentou:
- Já está tudo aí há mais de um ano. 
Olhei-a surpreso. 
E mais surpreso ainda fiquei quando percebi que a velhinha era familiar. 
- Dona Clotilde! É a senhora? Não te vejo há anos...
- Pois todos os dias eu estou aqui, caminhando, por esta mesma calçada. 
- E como pode eu não ter visto a senhora por tanto tempo?
- Você passa tão apressado que nem percebe que estou aqui. 
Mais uma vez pedi desculpas e prometi prestar atenção quando passasse. 
E assim transcorreu uma boa parte da manhã. 
Naquele dia em que não trabalhei e, simplesmente fui andar, reencontrei várias pessoas que não via há muitos anos porém, todas diziam estar dia após dia, naqueles mesmos lugares. 
Voltei para casa, em parte feliz por ter tido tão agradáveis e surpreendentes reencontros e por ter descoberto tanta coisa legal em meu bairro, que nunca tinha notado antes e, em parte, pensativo por perceber o quanto minha rotina de ganhar tempo me fazia perder tempo. 
Sentado em um banquinho em frente de minha residência, estava um rapazote, que aparentava uns quinze anos, entretido com um aparelho celular. 
Tão feliz estava eu que, alegremente, cumprimentei o jovem. 
- Bom dia, amiguinho!
- Bom dia, pai – respondeu o rapaz, sem tirar os olhos do telefone. 
Neste momento, “a ficha caiu” e meu mundo desabou. 
Um pequeno fio de lágrima escapou de meu olho, enquanto eu percebia que, todos os dias em que eu saia apressado, preocupado e interessado apenas em ganhar a vida, esta mesma vida passava por mim e eu não percebia. 
Meu filho, minha pequena criança havia se tornado adolescente e eu nem vi isso acontecer.
Ontem, eu não fui trabalhar. Nem fui pra faculdade. 
Hoje eu fui trabalhar. 
Hoje eu fui para a faculdade. 
Mas, hoje eu não corri. 
Hoje eu beijei minha esposa, falei com meu filho, cumprimentei todos os Onofres e Clotildes que encontrei pelo caminho e me senti mais vivo. 
Ontem eu fui caminhar. 
Hoje, voltei a viver.

A Cidade das Estátuas

 

Antes de mais nada preciso confessar uma coisa: nunca precisei de pandemia para praticar o isolamento social. 
Tenho noventa e dois anos e, há muito tempo, não saio de casa. Não entendam errado: não tenho limitações físicas e sou mais saudável que a média em minha idade. 
É porque perdi a paciência com as pessoas que me mantenho em casa. 
Prefiro conviver com meus livros e meus gatos. 
Quando preciso comprar alguma coisa, pago um trocado ao Tião Tarefas e ele trás para mim. 
Quando preciso de um médico, vou com meu carro até o consultório do doutor Sérgio Saúde. 
Enfim, não preciso sair de casa para nada. 
Mas, ontem, resolvi dar uma chance para a humanidade e saí para caminhar e interagir com os outros habitantes do planeta e, o que vi, foi aterrorizante. 
Assim que passei pelo portão, percebi que algo estava errado com as pessoas. 
Primeiro foi o vizinho, Carlos Carrancudo. 
Passei por ele e o cumprimentei. O sujeito estava estático, parado e imóvel, olhando para o seu telefone celular, enquanto sorria. 
De repente, assim do nada, ele guardou o aparelho e começou a andar como se nada houvesse acontecido de estranho. 
- Deve estar variando, o coitado – pensei. 
Caminhei mais um pouco e passei em frente a casa de Vânia Vaidosa. 
Coloquei a cara na janela e, pasmem, lá estava outra cena esquisita: a moça estava sorrindo, de frente a um espelho, estática, a olhar para o telefone. 
Repentinamente, tal qual o Carrancudo, começou a se mover como se tudo estivesse normal. 
Eu já estava começando a ficar assustado. 
Caminhei até a praça e parei na faixa de pedestres. 
Um carro vermelho, com o chassi todo rebaixado e um som insuportavelmente alto vinha em uma velocidade até que moderada. O motorista, ao me ver, parou e sinalizou para que eu atravessasse a rua. 
Quando olhei para ele com a intenção de agradecer, eis que lá estava o dito cujo, parado, sem sequer piscar o olho, sorrindo e olhando para o telefone. 
Então, subitamente, olhou para mim e seguiu sua viagem, como se nada houvesse se passado. 
Já na praça, sentei-me em um banco para descansar e, observar as pessoas em seu vai e vem cotidiano para que, talvez assim, voltasse a ter um pouco de simpatia por elas. 
Mas, longe de inspirar simpatia, o que vi me inspirou foi temor. 
As pessoas vinham andando, paravam, olhavam para o telefone, sorriam , congelavam e, logo depois, em um rompante de energia, voltavam a caminhar. 
- Será que a Skynet do filme Exterminador do Futuro havia virado uma realidade? Estariam as pessoas sendo substituídas por máquinas pré-programadas para recarregar de vez em quando e, logo depois, voltar a funcionar normalmente e estavam sendo controladas pelo telefone? – murmurei assustado e com vontade de voltar para casa. 
Um casal, saudável e jovem, vestidos em trajes esportivos, se aproximou correndo. 
- Pelo menos, ainda existem as pessoas normais praticando exercícios – pensei, um pouco mais aliviado e menos temeroso – Ainda existem seres humanos livres na Terra. 
Mas, repentinamente, eis que ambos pararam ao mesmo tempo, tiraram seus respectivos telefones dos bolsos e, pararam imóveis a sorrir e olhar para o aparelho. 
Depois, como se tudo estivesse normal, continuaram a correr. 
Decidi que iria voltar para casa, estocar água e alimentos, fazer uma barricada na porta e desaposentar minha velha espingarda. Se eu tivesse que ser substituído por alguma máquina, não seria sem luta!
Caminhei apavorado de volta à minha residência. 
Foi neste momento que, surgido sei lá de onde, o Tião Tarefas veio em minha direção. 
- “Seu” Otávio! Que milagre o senhor aqui na rua! Precisamos registrar esse momento...
E, dito isto, tirou o telefone do bolso, sorriu, apontou a tela da máquina diabólica em nossa direção e ficou congelado a olhar para a tela, que reproduzia nossa imagem. 
Uma luz sinistra piscou e, mais uma vez do nada, o homem começou a se mover normalmente. 
Meio cego pela luz e, em completo pânico, corri com uma vitalidade que nem mesmo eu imaginava que ainda tivesse em direção à minha casa. 
Agora aqui estou, escondido atrás do sofá, com minha velha espingarda na mão, tentando me proteger, enquanto lá de fora, o Tião gritava entre diabólicas risadas:
- Foi só uma selfie, seu Otávio! Não faz mal nenhum!
Eu é que não vou arriscar e, a partir de hoje, só saio de casa armado e apenas para comprar alimentos e remédios. 
Creio que sou o último homem normal da Terra.

Pouco Desaforo é Besteira



Desta fiquei sabendo esta semana. 
Claudia Cenoura estava em casa com seu namorado, Cícero Coelho quando um dos dois, não importa qual, teve uma ideia incrível, que quase ninguém sequer pensaria em ter: pedir comida via delivery. 
Pesaram as opções e, entre pizzas, açaís e afins, optaram por comida oriental. 
Confesso que, leigo que sou, não sei a diferença entre um miojo e um Yakisoba portanto, não saberei dizer exatamente que raios foi que eles escolheram e nem isso é de interesse para o andamento deste causo. 
Já escolados e ressabiados de propagandas enganosas, a fim de não ter que pagar por uma comida ruim, Cenoura e Coelho resolveram seguir a lógica de quanto mais chique melhor. 
Foram ao bom e velho Google, pesquisaram, entraram nos sites dos restaurantes, leram com calma e cuidado as avaliações dos clientes e, finalmente decidiram por comprar numa famosa rede que aqui chamaremos de Ching Ling. 
Muito conceituada, muito elogiada e trazendo um cardápio vistoso, ao menos nas fotografias, o lugar parecia perfeito, ideal e adequado. 
Pediram então os troços orientais e aguardaram a entrega. 
Entrega esta que foi surpreendentemente rápida. 
A comida estava bonita, cheirosa e parecia deliciosa. 
Parecia. 
Na primeira garfada, ou seja lá como se chama o ato de comer com aqueles palitinhos, Cenoura fez uma cara digna de quem acabou de morder um belo e suculento pedaço de jiló estragado; já Coelho deu uma mastigada e arregalou os olhos. 
- Mas isso não tem gosto de nada! – rosnou Coelho. 
- Já comi nadas mais gostosos – reclamou Cenoura. 
Olharam, reolharam e olharam mais uma vez os comentários e recomendações, para ter certeza que compraram no lugar certo. 
Coelho então, fez uma dedução digna de Sherlock Holmes:
- É óbvio que estes comentários elogiosos foram feitos por eles próprios para alavancar as vendas e enganar os pobres e desavisados consumidores!
Cenoura concordou e, resolveu fazer algo que nunca havia feito: foi até a página do restaurante e fez uma crítica não muito elogiosa à gororoba oriental que foram obrigados, não só a experimentar, como também a pagar. 
Coisa de dois minutos depois, Cláudia Cenoura recebeu em seu celular a educada, amável e delicada resposta que transcreverei a seguir:
“ Cara cliente, 
Gostaria de informar que sirvo uma média de cem refeições iguais a esta por dia e a única crítica veio da sua pessoa. Pensando nisto, aconselho que a senhora e seu marido procurem um posto de saúde e realizem com urgência um teste de covid pois, só estando completamente sem paladar para achar nosso prato sem gosto. 
Atenciosamente e desejando melhoras, 
Restaurante Ching Ling. “
Eu, cá com meus botões penso que, se tivessem pedido uma pizza, não passariam por isso.

A Emergência



Estava eu, numa sexta de madrugada, tirando meu merecido sono quando, não mais que de repente, fui despertado com gritos que mais pareciam almas sendo torturadas no inferno. 
Levantei assustado e, após me certificar que não estava tendo um pesadelo causado pela feijoada com mocotó que havia comido pouco antes de dormir, constatei que os berros apavorantes vinham da casa da vizinha. 
Eu não conseguia entender e nem definir o que estava sendo gritado mas, podia perceber com clareza que se tratavam de gritos de angústia e sofrimento. 
Pensei em sair para acudir a pobre vizinha mas, como não dava para saber se os gritos eram de dor ou de desespero, achei por bem acionar quem entendesse do assunto 
Liguei para a SAMU e, após angustiantes vinte e cinco minutos de espera onde, os gritos não cessavam e se tornavam ainda mais desesperadores, finalmente alguém me atendeu. 
- Acho que tem alguém morrendo aqui do lado!
Após responder a uma série de perguntas, o atendente finalmente enviou uma ambulância para o endereço da tortura. 
É, porém, mas, todavia, enquanto aguardava ansioso pelo fim daquele som macabro, aterrorizante, traumático e desesperador, apurando os ouvidos finalmente consegui entender algumas palavras e, posso jurar que ouvi a seguinte ameaça:
- Peraê, peraê, eu vou matar você!
O nível de sadismo e perversidade era tão grande que, deu-me a impressão de que a pessoa expressava prazer na voz, ao gritar aquelas palavras terríveis. 
E tudo era embalado com um fundo musical instrumental. 
Aí a coisa já mudava de figura!
Não se tratava mais de alguém passando mal e sim, de um crime em andamento. 
Imediatamente liguei para a polícia!
- Quero denunciar uma tentativa de assassinato!
Não demorou muito e a primeira sirene se fez ouvir: era a ambulância da SAMU. 
Saí para orientar os enfermeiros e, logo pude ver a chegada da polícia também. 
- Parece ser um caso de tortura – comentou o motorista da SAMU. 
- Aparenta ser um caso de assassinato com tortura – refletiu o sargento de polícia. 
Como nem as sirenes, nem as batidas na porta e muito menos a campainha faziam com que alguém saísse da casa ou os gritos parassem, devido à altura da música instrumental, só restou a polícia tomar uma medida extrema: arrombar a porta. 
Dois policiais corpulentos, usando um pesado instrumento de metal, correram em direção à entrada da residência e, com uma pancada forte, puseram abaixo a elegante porta de madeira e entraram na casa. 
Parecia cena de filme: os policiais jogaram bombas de efeito moral na sala do vizinho e entraram com armas em punho e máscaras no rosto; os profissionais da SAMU, entraram logo depois e eu, que estava preocupado com as pessoas lá de dentro, fui atrás. 
Tossindo bastante, o vizinho, sua esposa e duas filhas, a tudo observaram assustados. 
- Mas o que está acontecendo? – gritou o dono da casa. 
Ao perceber que não tinha mais ninguém na residência, fiz uma dedução lógica:
- Não tente negar que estava torturando sua família! – gritei  
Após muita confusão, finalmente tudo foi esclarecido:
- Ninguém está torturando ninguém! Acontece que nós compramos um karaokê e estávamos cantando! – falou chorosa, a vizinha. 
- Mas eu ouvi claramente alguém gritando “ peraê, peraê, eu vou matar você”! – falei desconcertado e meio desconfiado. 
- Era minha filha cantando “balancê, balancê, quero dançar com você”...
O médico fez uma careta, eu ri nervoso e o sargento, falou com voz firme:
- Vocês pagam aula de canto?
- Pagamos – respondeu o vizinho. 
- Então peguem esse cartão. Meu primo é advogado...
- Para processar o vizinho enxerido? – perguntou a esposa, olhando para mim com a cara ainda mais feia que o normal. 
- Não – respondeu o sargento – Para processar seu professor de música e pegar seu dinheiro de volta porque, vai cantar mal assim no inferno!
Em tempo: os vizinhos não falam mais comigo e tive que pagar o conserto da porta mas, pelo menos a partir desta noite, eles pararam de usar o maldito karaokê e eu, de cidadão preocupado, virei herói de toda a vizinhança.

Bral Bral Bral



Mané Malandro tinha muito de malandro e pouco de mané. 
Por isso, naquele dia, fiquei desconfiado de estar levando vantagem sobre ele. 
Mas, eis que estou atropelando a história, começando do meio. 
Era uma manhã de domingo e estava eu, após o futebol, sentado no barzinho de sempre, saboreando a cerveja sagrada de todas as semanas. 
- Quer apostar que você não entende de conhecimentos gerais? – perguntou-me, mais que de repente, o Malandro. 
Eu logo imaginei que teria alguma “pegadinha” embutida nesta proposta mas, como nunca fui de recusar uma boa apostinha, aceitei. 
Casamos dez reais para iniciar, e o Mané, que de mané não tem nada, começou:
- Matemática... Qual a raiz quadrada de nove?
Fiz um cálculo rápido “de cabeça “ e respondi:
- Três!
- Acertou...
Peguei os vinte e botei no bolso. 
- Bota os vintão na mesa, que tem mais. Valendo quarenta contos, vamos de geografia: qual a capital do Amapá? – perguntou sorrindo, com o ar triunfante de quem tinha certeza mais que absoluta da vitória. 
- Macapá – gritei, já imaginando comprar uma caixa de cerveja com os quarenta reais. 
- E não é que o “miseravi” acertou de novo? – falou irritado, o Malandro. 
Sorri, satisfeito. 
- Agora, valendo oitenta, questão de Português: soletre paralelepípedo. 
- Pa-ra-le-le-pi-pe-do – soletrei vagarosamente, para não correr o risco de errar. 
- Mas não é possível! – gritou enfurecido, o Mané. 
Recolhi o dinheiro e já pensava em parar, quando veio o desafio:
- Mais duas perguntas e me dou por vencido. 
- Acho melhor pararmos por aqui – falei cauteloso. 
- E eu pensava que estava lidando com um cara corajoso...
Pronto! Mexeu no meu orgulho masculino e eu perdi as estribeiras. 
- Pois vou te mostrar o tamanho de minha coragem! Pode mandar a pergunta!
- Valendo cento e sessenta – falou com um sorriso arrepiante – pergunta sobre aviação: qual o sobrenome dos irmãos que alegam ter voado antes de Santos Dumont? 
Pesei que o nível de dificuldade tinha dado um salto gigantesco mas, acordo era acordo, e eu dei minha palavra. 
Pensei, forcei a memória e, finalmente respondi, sem tanta convicção:
- Foram os irmãos Wright...
- Esse cara é um gênio! – berrou socando a mesa, o Mané. 
Eu estava duplamente orgulhoso. Além de estar ganhando um bom dinheiro, mostrava que era muito bom em qualquer matéria. 
- Vou perguntar só para cumprir o acordo mesmo porque já vi que você sabe muito de tudo mas, valendo trezentos e vinte reais, vamos à pergunta...
Um calafrio percorreu meu corpo. Era a certeza que tudo aquilo levava ao golpe do malandro, que não dá ponto sem nó, que seria dado agora. 
- Repita comigo, bem rápido: bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral – repeti, desconfiado. 
- Bral, bral, bral – tornou a falar, o Malandro. 
- Bral, bral, bral – repeti  
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Quem descobriu a América?
- Pedro Álvares Cabral! – gritei triunfante. 
- Errou! Foi Cristóvão Colombo – falou o Malandro, rindo muito. 
Abaixei a cabeça, compreendendo finalmente, o golpe do malandro. 
- Deixa que eu pago a cerveja hoje – gritou para o dono do bar. 
E eu, cabisbaixo e um pouco mais pobre, entendi que malandro é malandro, mesmo que se chame Mané.

Tantas Emoções



Foi o amigo Antônio Atazanado que me fez o convite. 
Desconfio que a namorada não quis ir, por isso fui convidado. 
Era para ver uma “exibição do Roberto Carlos” e claro, na condição de fã incondicional do Rei, não quis nem saber dos motivos e aceitei de bate-pronto o convite. 
Contei ansiosamente cada dia, hora, minuto, segundo e centésimo para o esperado show do meu amado Rei. 
Durante este período de tempo, que eram dias mas pareceram um eternidade, comprei um belo smoking, uma calça “supimpa” , um sapato social preto, lindo e lustroso e até planejei colocar uma rosa no bolso. 
Bem amante a moda antiga mesmo, sabe?
Mas, para minha surpresa, parecia que o amigo Atanazado, não compartilhava do meu entusiasmo, pelo menos na questão da vestimenta. 
Bateu em minha porta trajado com um tênis surrado, uma bermuda e, para arrematar, uma camisa do Palmeiras. 
Não entendi nada mas, não vim ao mundo para julgar as pessoas. 
Sou mecânico e não juiz. 
Para confundir ainda mais minha cabeça, ele comentou que era tão raro o Roberto Carlos se exibir em nossa cidade que, ele teria que se trajar a rigor. 
De qualquer forma, lá fomos nós, eu de smoking e ele de Palmeiras, rumo ao tão aguardado show. 
A apresentação do Rei, é claro, tinha que ser no estádio de futebol local. 
Uma coisa que me causou estranheza foi o fato da grande maioria das pessoas presentes estarem vestidas igual ao meu amigo. Eu, que sou fã de longa data, confesso que não sabia que Roberto Carlos era torcedor do Palmeiras. 
Era até meio ridículo todos de bermuda e camisa e eu, lá no meio, de smoking. 
Mas, não é culpa minha se as pessoas não sabem se vestir para as ocasiões. 
Lá dentro o clima era festivo. 
Parecia mais que eu estava no estádio para ver um jogo de futebol que um show de música do Rei Roberto Carlos. 
Outra coisa que me causou estranheza foi a falta de um palco. 
Onde o Rei iria fazer sua apresentação? No gramado?
E a coisa foi ficando cada vez mais esquisita quando vi vários jogadores batendo bola no campo e, pasmem, até dois bandeirinhas e um árbitro se faziam presentes. 
- Será que é um show temático? – pensei com os botões do meu smoking – ou vai ter uma partida de futebol depois do show?
Posteriormente, os jogadores entraram em campo, o público comemorou com foguetes e uma partida de futebol foi iniciada. 
Cada vez mais confuso, resolvi finalmente perguntar ao Antônio quando e como seria a apresentação do Rei e, para minha surpresa, ele respondeu:
- Que Rei, rapaz? O Pelé já parou de jogar faz décadas!
Ainda mais atordoado, perguntei:
- O Roberto Carlos. Que horas começa a apresentação dele?
- Já começou, não está vendo?
- Onde?
- Olha ele lá! O baixinho da camisa número seis. O jogo é beneficente e foi organizado por ele.  Aquele é o lateral esquerdo Roberto Carlos, o melhor do mundo!
Foi só então que eu entendi o que estava acontecendo e como era ridículo aquele meu traje de gala em meio àquela multidão de palmeirenses. 
E, para arrematar, ainda ouvi o Antônio murmurar:
- Não vem mais. Sujeito esquisito...

Nos Tempos da Pandemia



Que saudade dos tempos da pandemia!
Antes que me entendam mal, me critiquem e me cancelem, gostaria de esclarecer que meu psiquiatra, minha psicóloga, meu coach, meu pai de santo e até meu horóscopo me disseram que eu tenho que olhar as coisas com mais otimismo portanto, quando digo que estou com saudades dos tempos da pandemia, estou olhando o lado menos ruim dessa história. 
Nessa época eu andava nas ruas, que não estavam tão abarrotadas de gente apressada, mal humorada e mal educada, e as pessoas me cumprimentavam gentilmente, com os tradicionais bons dias, boas tardes e boas noites. 
Mas, além disso, foi a época em que eu mais recebia elogios. 
- Poxa, seus olhos são lindos! – me disse, Naninha Namoradeira. 
Eu, todo vaidoso, ficava com as bochechas avermelhadas. 
- Olha, seus olhos são castanhos! – falou, Patrícia Paqueradora. 
Eu, curioso, fui até conferir no espelho pois, sempre achei que eles eram pretos. 
- Você faz as sobrancelhas? São tão certinhas... – comentou, Fátima Faceira. 
Eu, que nunca entrei em um salão de beleza, fiquei lisonjeado. 
Nos tempos da pandemia, usei franja. 
É que minha testa é um tanto quanto avantajada e, com metade do rosto coberto, ela ficava ainda mais saliente e exposta. 
- Gostei do seu novo penteado – elogiou, Suzana Santinha. 
Eu, alisando os cabelos, agradecia humildemente. 
- Nossa, seus cabelos são cacheados! – observou, Marília Maravilhosa. 
Eu, todo tímido, baixava a cabeça e sorria. 
E assim foram os dias da pandemia. 
Era tudo muito ruim, triste e deprimente porém, foi a época em que meu ego foi mais massageado, mimado e acariciado. 
Hoje, não estamos mais usando máscaras. 
As ruas estão abarrotadas de gente apressada, mal humorada e mal educada. 
Eu ando pelas ruas e ninguém repara mais em meus belos olhos castanhos, em minha franja ou nos caracóis que trago em meus esbranquiçados cabelos. 
Apesar de nada ter voltado ao normal, todos vivem como antes de nada ser anormal. 
E eu, comum que sou, voltei a ser só mais um rosto na multidão. 
Por isso, não me julguem, condenem ou cancelem mas,  olhando por este ângulo, não consigo parar de refletir, pensar e falar:
- Que saudades dos tempos da pandemia!

O Botijão

 

Teodoro Tapado nunca aprendeu a fazer nada na vida.
De família abastada, ele nunca precisou fazer coisa alguma, em momento algum.
Porém, a crise financeira afetou a família e, pouco a pouco, Teodoro foi sendo obrigado a viver na realidade de todas as outras pessoas normais.
A primeira tarefa de Teodoro Tapado foi de ficar responsável pela compra  de um botijão de gás.
Tapado fez um careta.
A distribuidora ficava a aproximadamente meia hora de caminhada, em passos de pessoas normais. No caminhar de Teodoro, levava algo em torno de quarenta e cinco minutos, lento que era.
Na falta de um veiculo motorizado, eis que lá foi o Tapado, com um carrinho de  mão, rumo a distribuidora para realizar a desagradável tarefa.
O sujeito era tão desacostumado com qualquer tipo de exercício físico que, teve que parar algumas vezes para enxugar o suor e beber água.
Quase uma hora após ter saído de casa, finalmente o Tapado chegou ao seu destino.
Metade aliviado por ter chegado e metade temeroso por saber que, a segunda parte da caminhada seria com o carrinho de mão com o peso do botijão, Teodoro foi ate o guichê e solicitou o bendito gás.
Após ficar abismado com o preço e reclamar bastante, fechou a compra.
- Onde esta o botijão vazio? – perguntou o vendedor.
- Como assim, botijão vazio?
- Para que o senhor compre um botijão cheio de gás, e necessário que traga o botijão vazio que, creio eu, o senhor tem em casa.
- Na verdade, tem mesmo um vazio lá em casa mas, não sabia que precisava...
- Mas precisa – falou o vendedor, sem conseguir disfarçar um sorriso cínico.
- Eu tenho que pagar esse absurdo e ainda preciso trazer um botijão vazio?
- Deve ser por isso que o senhor só tem um botijão vazio em casa. Caso contrário, teriam vários lat, não é mesmo?
Sem ter como argumentar e furioso com aquela situação, voltou o pobre tapado, com o carro de mão vazio, para casa.
Após quase uma hora de caminhada pois, já estava ainda mais cansado, Teodoro Tapado, chegou em casa, pegou o bendito botijão vazio que, o pai, já sabendo das limitações intelectuais do filho, havia deixado desconectado do fogão, colocou no carro de mão e retornou à distribuidora.
Se a ida e a volta com o carrinho vazio, havia sido um suplicio, imagine com o botijão...
Teodoro chegou quase sem ar, passando mal, vermelho feito um morango e, praticamente, caindo por cima do carrinho de tanta exaustão.
Mas o tormento mesmo foi a volta.
Teodoro Tapado ficou bestificado com o quanto aquele troço era pesado!
- Não é possível – resmungou – que tenha só gás dentro desse troço...
O esforço que Teodoro fazia era tão grande que começou a compadecer as pessoas.
Um sujeito passou de carro e o incentivou:
- Força companheiro, você consegue!
Crianças o acompanhavam aos risos e idosos comentavam o quanto era mole essa geração atual. Já Teobaldo nada respondia, até porque, não teria fôlego para isso.
Tudo que ele queria era que aquele tormento terminasse.
Finalmente chegou em casa e, exausto e exaurido, dormiu sobre o carro de mão quando tentou retirar o botijão do mesmo.
Finalzinho da tarde, quando o pai chegou, Tapado ainda dormia.
O velho ficou muito chateado e reclamou do filho:
- Rapaz, você nem instalou o botijão no fogão! Que sujeito mole e folgado!
Teobaldo, ainda meio quebrado e sonolento, preferiu não responder mas, não satisfeito, o pai continuou a bronca:
- Sujeito mole! Um botijãozinho desse e está aí morrendo! Quero ver como você vai fazer amanhã quando tetra que ir no depósito de Beto Barro comprar dois sacos de cimento e trazer para casa.
Teodoro Tapado até foi buscar o cimento no dia seguinte mas, passou cinco dias hospitalizado com a coluna travada, insolação e pés inchados.

Um Caso Pré Histórico



Org é um homem pré-histórico;
Mong também;
Mong é um guerreiro feroz, temido e destemido;
Org também;
Org é famoso por ter muitas mulheres e filhos;
Mong também;
Mong é um excelente caçador;
Org também;
Org tem todos os atributos de liderança;
Mong também;
Mong é da tibo dos Cabeças de Lua;
Org também;
Org se acha o maior dos homens da tribo;
Mong também;
Morg sempre quis mostrar que era melhor que Org;
Org também;
Então saíram, os dois maiores dos maiores, para uma prova de coragem, força e sobrevivência, em pleno inverno, nas montanhas mais altas e geladas da região. 
Mong caçou, pescou e sobreviveu até chegar na beira do Grande Rio Gelado;
Org também;
Org, para mostrar toda sua coragem e resistência, atravessou o rio a nado;
Mong também;
Mong chegou encharcado e com muito frio do outro lado da margem;
Org também;
Org estava congelando;
Mong também;
Acenderam uma fogueira para se aquecerem mas, não foi suficiente. 
Mong tirou a roupa molhada e ficou nú;
Org também;
Org percebeu que, daquele jeito, morreria de frio;
Mong também;
A única solução era dormirem abraçados para se aquecerem mutuamente. 
Mong não gostou da ideia de dormir abraçado com outro macho;
Org também não;
Combinaram que, aquela parte da aventura, nunca contariam a ninguém. 
E nem puderam: Org morreu congelado;
Mong também;
Morreram abraçados e pelados. 
Milhares de anos depois, uma escavação arqueológica achou os restos mortais de Mong;
E de Org também.
Mong e Org, os dois homens mais viris de sua época, os maiores guerreiros, os mais habilidosos caçadores, os mais eficientes pescadores, os maiores conquistadores e reprodutores da Pré-História, por terem morrido nus e abraçados, foram catalogados como o primeiro casal homossexual da história da humanidade...

Mascarado



Ninguém me perguntou mas, vou falar assim mesmo: já ando de saco cheio dessa história de tira máscara, coloca máscara. 
Mas, enquanto não resolvem, vou falar umas verdades sobre isso!
A primeira vez que botei esse troço na cara, fiquei tão sufocado que pensei que ia morrer asifi... asquici... aficis... sem ar!
Depois fui me acostumando e até achei legal postar umas fotos no Instagram. 
Teve uma que botei um chapéu de vaqueiro e me senti o próprio Durango Kid. 
Minha filha disse que a quarentena estava me deixando doido mas, eu gostei. 
Depois tirei o chapéu e coloquei óculos escuros. 
Minha esposa quando viu, deu um berro, jogou a panela de feijão para cima e pediu para, pelo amor de Deus, eu levar o dinheiro e poupar a vida dela. 
Eu não gostei porque, além de quase ficar viúvo com o susto que a criatura tomou, ainda tive que comprar almoço para todo mundo da casa durante três dias, a fim de repor o feijão perdido. 
Nunca chorei pelo leite derramado mas, lamentei muito o feijão desperdiçado. 
Na rua, foi outro problema: para mim, todo mundo poderia ser um assaltante em potencial pronto para aproveitar o uso das máscaras e me assaltar. 
Percebi que muita gente me olhava com medo também. 
Vê lá se tenho cara de ladrão! Se bem que, de máscara não se vê cara e nem coração. 
O pior mesmo foi os calotes que tomei. 
As pessoas começaram a comprar fiado em meu pequeno comércio e, quando eu ia cobrar, diziam que não tinham comprado e arrematavam me desafiando a mostrar seus rostos nas câmeras de segurança. 
Tomei tanto prejuízo que precisei colocar um aviso dizendo que só venderia fiado a quem pudesse me comprovar ser a própria pessoa antes da compra. 
Deu problema com Itamar Indigente que, por ser idoso, não tinha mais a carteira de identidade e se recusava a tirar uma nova. 
Comecei a vender máscaras descartáveis afinal, meu avô já dizia que, quem entra no mar tem que aprender a nadar.  
Aí me apareceram uns sem noção querendo só pagar pelas bichinhas depois de testarem se elas duravam mesmo quatro horas! 
Acabei desistindo da mercadoria. O lucro não compensava a aporrinhação. 
O bom é que muita gente feia conseguiu se embelezar por causa das máscaras. 
Tinha máscara da Nike, máscara do Homem Aranha, máscara com frase motivacional e surgiu até uma invenção criada pelo Marquinho Marqueteiro, que era a máscara outdoor. 
Começou com uma máscara com a inscrição: “anuncie aqui”  e logo o malandro usava cinco máscaras por dia, cada uma com o nome de uma empresa diferente. 
Até eu aderi e paguei para o malandro usar uma com o nome do meu comércio!
O problema foi no dia que ele foi fazer propaganda da máscara do Motel Gemidos Vibrantes com a cama e com a mulher do Pedro Pançudo 
Marquinho teve que sair correndo pela rua, só de máscara, pelado, enquanto o chifrudo corria atrás dele com uma peixeira de dez polegadas. 
Foi constrangedor e péssima propaganda para o motel. 
Ou talvez não... 
Para mim foi legal porque, como sou bem feinho mas tenho grandes e bonitos olhos castanhos, comecei a ser paquerado na rua. 
Nunca correspondi às paqueras por dois motivos justos:
1 – poupei muitas mulheres da decepção de ver o resto da minha fuça, sem a máscara;
2 – minha esposa, delicada como uma pétala, disse que se soubesse que eu estava de gracinha com mulheres na rua por causa de meus belos olhos, daria um jeito de fechar os dois para que assim ninguém os visse. 
Na dúvida se ela ia me ninar para dormir ou me levar ao sono a base de socos eu, franzino que sou, preferi não arriscar e aproveitei a autorização do governo para parar de usar as máscaras. 
Mas, já soube que, com tanta gente se vacinando contra a COVID, esqueceram de tomar a vacina da gripe e vamos ter que usar máscaras novamente. 
Eita país de gente indecisa ...

Qualificado Por Demais


Estou aqui hoje com o único e claro objetivo de oficializar minha candidatura politica.
A qual cargo? 
Não sei, não faço ideia.
Não entendo chongas de política e é tanto  cargo que eu ate me atrapalho.
Vou ser sincero com vocês: eu não sei a diferença entre o que faz um senador e um deputado. Só sei que um deputa e outro senada, seja lá que raios sejam estas coisas.
Mas, mesmo com essa desvantagem, vou provar que mereço, como qualquer outra pessoa, a confiança do seu voto.
Veja bem: com minha vasta e ampla experiencia na área da pobreza, me tornei um verdadeiro especialista em questões que vejo os políticos batendo cabeça para resolver.
Eu não precisarei de ministros e, assim, farei uma economia enorme de dinheiro.
Mas, como não preciso de ministros? Explico:
1 Economia – alguém neste mundo de meu Deus entende mais de economia que pobre?
Eu consigo passar um mês com mil reais, pagando agua, luz, internet, mercado, IPTU, IPVA, material escolar e, ainda me dou ao luxo de pagar Netflix, ir a praia e beber cerveja!
E, mesmo com todas estas despesas, ainda me aventuro a comprar gasolina e cozinhar usando botijão de gás... Digam se, com essa experiencia, eu preciso de Ministro da Economia?
2 Agricultura – disso não entendo tanto mas, já trabalhei de caseiro em umas chácaras lá no interior, e aprendi a tirar leite de vaca, montar em cavalo, capinar e muitas outras coisas.
Nunca entendi porque precisamos de um ministro para estas coisas se, todo dono de fazenda tem um monte de empregados que fazem isso para eles...
3 Cidadania – entendo tanto disso que, certa vez, fui agraciado com o titulo de cidadão mais chato da cidade onde moro. E olhe que não nasci aqui! Como sou natural de Lagarto e, mesmo assim, consegui ser eleito cidadão de outro lugar, e sinal de que, cidadão eu sei ser.
4 Ciência e Tecnologia – Dona Gertrudes, minha professora da quarta serie sempre dizia que eu era o melhor aluno na matéria de ciências. Quanto a tecnologia, fiz curso de montador de computadores e manjo tudo de jogo de vídeo game. Me sinto super qualificado para o cargo. Vocês precisam me ver jogando Super Mário...
5 Comunicação – sou bom de papo, sim senhor! Vendo bronzeador no Polo Norte, sandália para astronauta, e produto de camelô para camelô, como não sou lá muito bonitinho, ganhei todas as minhas namoradas “na lábia” e, certa vez, convenci um torcedor do Vitoria a comprar um titulo de socio do Bahia. Para que eu preciso de um Ministro de Comunicação?
Quando for para falar com um gringo, eu uso tradutor do Google...
6 Defesa – olha, não quero me gabar mas, sou um zagueirão! Oriento a defesa do Oiti Atlético Clube, time onde jogo, inclusive até acertando o posicionamento dos volantes.
Certa vez, participei de um campeonato onde meu time só levou um gol! 
Infelizmente foi na final...
7 Educação – sou pobre mas isso minha querida mãezinha fez questão de me ensinar! Falo “obrigado”, “por favor” e “bom dia” até para quem eu não conheço. 
Sou moda antiga e dou bença aos mais velhos, chamo as pessoas de idade de senhor, jamais entro na casa dos outros calçado e peço licença para levantar da mesa. 
Que ninguém se engane: não preciso de um Ministro para ser educado!
8 Segurança – bom, nesse caso, precisarei pedir umas informações ao meu amigo, Bruno Brucutu, que trabalha na área. 
Sou muito medroso para trabalhar de segurança, sabe? 
Não entendo muito do “riscado” mas, garanto que não precisarei de muito tempo para virar um entendido no assunto. 
Além disso, não sou totalmente ignorante no assunto, não senhor. 
Uso cinto toda vez que estou em um carro ( menos em ônibus porque, como todos sabem, é seguro o bastante para andarmos nele sem cinto e em pé) e nunca subo em andaime sem a corda de segurança. 
Pensando bem, nem vou perguntar nada para o Bruno Brucutu porque já sei mais que muito Ministro que passou por Brasília. 
9 Saúde – disso eu entendo e muito! Faço academia, como comidas saudáveis, quase nunca fico doente e trabalhei seis anos em um hospital. 
Nem vou me aprofundar muito nisso porque, semi-especialista que sou e conhecendo a quantidade de médicos que conheço, definitivamente não preciso de um Ministro para me falar como lidar com a saúde. 
10 Trabalho – esse é o mais difícil... Primeiro que estou desempregado, segundo que nem conheço ninguém que esteja trabalhando de carteira assinada para nomear como Ministro e, por fim, trabalho está difícil. 
Mas, ao meu favor, nunca fico sem fazer algum “bico” e minha esposa vive dizendo que dou muito trabalho a ela. Aliás, minha mãe e meus professores também sempre disseram isso...
Além de que, o que é uma campanha eleitoral se não uma grande entrevista de emprego?
Poderia me alongar por muito mais tempo em demonstrar minhas qualidades e provar que não preciso de Ministros, economizando assim uma fortuna em salários. 
Portanto encerrarei por aqui, dizendo que estou disponível para propostas de todos os partidos para financiar minha futura candidatura para qualquer coisa, exceto Presidente. 
Presidente é muito complicado: é pior que ser síndico de condomínio e olhe que de condomínio eu entendo!
Até já trabalhei de jardineiro em um, certa vez...

O Processo



Estou aqui para solicitar do senhor, doutor advogado, a abertura de um processo contra o sem-vergonha do Mauricio Muambeiro que, na maior caradura me enganou, trapaceou, enrolou, ludibriou e, não satisfeito, ainda me lesou.
E eu te explico timtim por  timtim tudo que aquele vagabundo travestido de vendedor fez para me deixar tão furioso, zangado e retado da vida.
Estava eu procurando uma casa para comprar após ter juntado, por alguns anos, uma mixaria para não ter que depender de financiamento da Caixa Econômica Federal.
Vou te falar, seu doutor, suei muito para guardar esse dinheirinho e não vou deixar que ninguém fique com ele, assim na moleza.
Sei que o senhor é um homem ocupado e, por isso, vou aos pormenores do caso.
O pilantra do Mauricio Muambeiro colocou uma placa na frente de sua casa, com os seguintes dizeres: “ vendo por cinco mil reais”.
Eu tinha em mãos o montante de quatro mil e duzentos reais, mais trezentos que emprestei ao Mauricio Mao de Vaca, mais duzentos que o Alirio Lorota tinha que me pagar, dando assim um total de quatro ml e setecentos reais, se esta minha velha cabeça não estiver contando errado.
Na ponta do lápis, ainda me faltavam trezentos reais para completar a transação. 
Eu, realmente não tinha ideia de onde conseguir este dinheiro mas, mesmo assim, conversei com o safado do Muambeiro e pedi que retirasse a placa e não vendesse pois, em dois dias eu teria toda a quantia.
Foi ai que começou  minha tormentosa peregrinação, seu doutor.
A primeira tarefa, digna de um trabalho de Hércules, foi a de recuperar minha quantia com o salafrário do Mão de Vaca. Acredita que o meliante, casquinha filho de uma égua mal parida, queria parcelar a dívida em seis vezes?
Precisei ameaçar arrebentar o guarda chuva em sua cabeça e pegar sua televisão de refém para o safado tirar o dinheiro de dentro de uma lata de mantimentos e pagar direitinho cada centavo que me devia.
Depois, foi outra novela para receber o dinheiro de Alirio Lorota.
O senhor acredita que o cabra mandou a filha de cinco anos me dizer que não estava em casa e, eu que não sou besta nem nada, corri para os fundos e flagrei o sacripanta pulando a janela, para sair escondido de mim.
Tive que dar dois safanões no desavergonhado para que, só assim, ele me pagasse.
Depois, deixei meu filho chorando em casa porque quebrei o cofrinho cheio de moedas de um real, que estávamos juntando para seu aniversario, e tirei cento e cinquenta reais. Faltavam só cento e cinquenta.
Peguei cem emprestado com o Agripino Agiota, para pagar duzentos e cinquenta (aquele ladrão!) e vendi minha  coleção de panos de prato a preço de banana, para completar a quantia. 
Fechei os cinco ml reais certinhos e, para não desinteirar o trocado, fui andando ate a casa do Mauricio Muambeiro.
Chegando lá, fechamos o acordo e, assinei um papel com um monte de coisas escritas, que nem me dei ao trabalho de ler.
Depois disso, ele arrancou a placa de venda do chão e me entregou.
Agradeci e fui embora preparar a mudança.
Quando lá cheguei, com o caminhão cheio de minhas tralhas, o vagabundo disse que eu não poderia descarregar pois, não tinha me vendido a casa!
O que ele me vendeu então?
Pois o filho de uma chocadeira falou em minha cara que, nunca tinha dito que era a casa que estava a venda e sim, a maldita placa!
Agora aqui estou eu, com uma placa de madeira, no valor de cinco mil reais sem saber o que fazer...

O Sumiço dos Pães



Mercidalva suspirou ao sentir o delicioso aroma dos pãezinhos que acabaram de sair do forno. E que cheiro delicioso!
Contou, apenas por contar, a quantidade de guloseimas na assadeira.
Um, dois, três, quatro... quinze.
Retirou três, colocou num prato e levou para o marido, que no momento se encontrava no banheiro.
- Francinaldo, olha o pão quentinho!
Feito isto, voltou aos seus afazeres domésticos.
Passados pouco mais de dois minutos, ouviu a voz do marido:
- Muié, o prato do pão esta vazio!
- Como assim, vazio?
- Não sei. Você deve ter esquecido de colocar no prato.
Mercidalva voltou a cozinha e contou novamente os pãezinhos.
Um, dois, três, quatro... doze.
- Mas que marmota e essa?
Colocou mais três pães no prato e levou para o marido, que estava do lado de fora, ajeitando a antena da tv.
- Francinaldo, estão aqui os pães!
E, mais uma vez, voltou aos seus afazeres.
Passaram-se alguns minutos e, mais uma vez, ouviu-se a voz rouca do marido:
- O Merci, o prato do pão esta vazio!
Intrigada, Mercidalva teve que ir ver para crer.
A mulher coçou a cabeça, completamente confusa.
Voltou a cozinha, recontou os pães, se certificou que faltavam seis, como deveria ser.
- Aqui não tem cachorro e nem gato... – pensou – Será que foi o felino do vizinho?
Colocou então mais três pãezinhos no prato e levou para o marido que, agora estava no bar do Plinio Pinguço, comprando cerveja.
Deixou o prato na sala e só voltou para a cozinha após se certificar que o marido já havia voltado.
Mesmo assim não demorou para, mais uma vez, ouvir a queixa do marido:
- Dalvinha, o prato do pão está vazio!
- Mas você viu quando voltou que o prato estava com três pães!
- Tudo que eu sei é que esta vazio, como você mesma pode ver...
Já desconfiada e com um caminhão de pulgas atrás da orelha, a mulher pegou mais três pães e tornou a levar para a sala.
O marido, mais uma vez, estava ausente da sala.
Mercidalva esperou que ele voltasse e saiu do recinto.
Porém, desta vez, escondeu-se em um canto e ficou observando.
- Só restam três pães e, antes que acabem todos, vou descobrir agora o que está acontecendo com esses benditos pães.
E, abismada, viu o marido comer rapidamente e, ao terminar, gritou:
- Nega, o prato está vazio!
Indignada, revoltada, ofendida e p* da vida, Mercidalva já entrou na sala gritando com um assustado Francinaldo.
- Você acha que sou palhaça? Quer dizer que o senhor come os pães e depois fica me gritando e dizendo que o prato está vazio? Pretendia comer tudo sozinho não é, seu egoísta sem-vergonha?
Recuperado do susto, Francinaldo então, calmamente falou:
- Mas em momento nenhum eu disse que não tinha comido! Eu só te avisava que o prato estava vazio. Você trazia mais e eu comia, ué... E eu não sei do que você está reclamando afinal, não era eu que tornava a encher o prato. Aliás, estavam deliciosos! Não teriam mais uns três por ai?
Francinaldo não entendeu porque, após este dia, teve que ficar por duas semanas dormindo no sofá.

A Vingança do Splish-Splash



Há trocentos anos atrás, quando eu ainda era adolescente, lembro de ter tido um debate amigável com minha querida mãezinha sobre a nossa amada música popular brasileira e suas nuances.
Estava eu ouvindo Legião Urbana ou alguma coisa de igual sucesso na época quando, ela gentilmente comentou:
-Mas que porcaria barulhenta é essa que você está escutando?
Indignado e revoltado, como só um adolescente sabe ser, imediatamente defendi não só a canção, como todo o pop rock nacional!
Nisso, o debate foi se acalorando e, já sem paciência, disparei:
- E esses bagulhos que a senhora houve? Esse tal de Roberto Carlos...
- O que tem de errado com as musicas do Rei?
- O cara é o Rei da musica brasileira e canta um troço chamado Splish-Splash – e, só de pirraça, comecei a cantar apertando o nariz e deixando a voz bem fanha.
- Splish-Splash...
Me recordo que minha mãe ficou bem chateada com aquela critica ao ídolo de multidões mas, eu fiquei satisfeito por ter ganho a discussão usando o único argumento que tinha a disposição.
Os anos se passaram e, como todo bom velho ranzinza, me tornei um feroz critico de toda e qualquer musica que tenha sido lançada de 1990 para cá.
Obviamente, e não tinha como ser de outra forma, fui confrontado por um adolescente que partiu, indignado e revoltado, para defender toda a sua geração de músicos e afins.
Como não podia debater sobre as letras pois, confesso que não sei nenhuma por total e pura falta de interesse, resolvi apelar para outro caminho.
- No meu tempo – comecei, igual todo velho ranzinza começa – até os nomes  das bandas eram mais legais e criativos! Por exemplo, tínhamos a Legião Urbana, um nome forte e significativo. Um fã da banda se dizia um Legionário.
- E dai? – perguntou-me o jovem petulante, com cara de tédio.
- Como “e dai?” Era uma forma de identificação com a banda e sua ideologia! Ser um Legionário era compartilhar da filosofia e ideologia de Renato Russo – falei, tão emocionado que ate lágrimas me vieram aos olhos.
O adolescente, que como todo adolescente sabia ser irritante, bocejou, tirou o celular do bolso e começou a digitar.
- Não vejo em que isso é importante...
Cada vez mais irritado, citei outros nomes marcantes de bandas dos anos 80 e acabei indo parar no Raulseixismo e suas implicações politicas e filosóficas.
- Agora me responda – arrematei triunfante – como se chama um fã de Harmonia do Samba? Harmônico? E do DJ Kevinho? Degustador ou alcoólatra? E um fã de Annita? Seria um Anittaixista? 
E encerrei como meu avô sempre encerrava suas falas:
- Me faça uma garapa!
O adolescente, sem tirar os olhos do celular, então me perguntou:
- E o Biquini Cavadão?
- O que tem eles? – perguntei surpreso.
- Estou vendo aqui na internet que tinha uma banda com esse nome...
- Sim, tinha. E dai?
- Um fã de Biquini Cavadão, o que é? Um vendedor de moda praia ou um tarado?
E foi assim, com um único argumento, que o Vento e a Ventania levaram para longe qualquer chance que eu tinha de vencer aquela discussão.
Com a desculpa de ter lembrado de um compromisso urgente, saí de fininho enquanto o irritante adolescente, mal disfarçava um sorriso triunfante de canto de boca.
Foi nesta hora que eu lembrei de minha mãezinha e seu Splish-Splash, e imaginei Roberto Carlos, sentado em seu trono, sorrindo igual ao adolescente, e cantando:
- Splish-Splash...

Cancelando a Internet



- Bom dia. Quero cancelar minha internet. 
- Tudo bem, senhora. Qual o motivo do cancelamento?
- O ZAP. 
- Desculpa, não entendi. 
- Eu quero cancelar minha internet por causa do ZAP. 
- O aplicativo não está funcionando?
- Não sei nada de aplicativo. Só sei que meu ZAP sumiu!
- A senhora já tentou reinstalar o aplicativo?
- Que chatice a sua com esse negócio de aplicativo! Eu não já disse que não sei nada desse negócio de aplicativo? Eu quero é cancelar a internet!
- Ok, senhora. O que estou perguntando é se a senhora já tentou reinstalar o ZAP...
- Já. 
- E não conseguiu?
- De jeito nenhum. 
- Desculpa a curiosidade mas, a senhora pode me explicar exatamente como aconteceu esse problema no seu ZAP?
- Eu estava usando o ZAP pela noite normalmente. Quando acordei pela manhã, ele tinha sumido. 
- A senhora procurou no celular se não estava em outro lugar?
- Procurei. Mas, quando não achei, perguntei no Google. 
- No Google? Como assim?
- Minha neta falou que qualquer coisa que a gente precise, se perguntar ao Google, ele responde e ensina a gente. 
- ...
- Eu perguntei: Google, como eu acho meu ZAP que sumiu?
- E ele respondeu?
- Respondeu. Ele disse assim: instale o aplicativo novamente. 
- E a senhora instalou?
- Se eu tivesse conseguido instalar não ia querer cancelar a internet. 
- Mas senhora, isso não tem nada a ver com a internet. A senhora só precisa reinstalar o aplicativo... digo, o ZAP. 
- Como não tem a ver? Eu uso o ZAP sem internet?
- Não, senhora. 
- Então tem tudo a ver. Você vai cancelar ou eu vou ter que chamar meu advogado?
- Tudo bem, senhora. Eu cancelo. Mas, tenho que avisar que, cancelando a internet a senhora também vai ter que cancelar a linha de telefone. 
- Ótimo! Esse telefone me deu quinhentos reais de prejuízo!
- Como assim, senhora?
- Eu fiz uma ligação e vocês me cobraram quinhentos reais!
- Foi ligação internacional?
- E eu lá vou ligar para o Internacional? Eu torço é para o Vitória! Já viu baiano torcer para diabo de time do Sul?
- Eu quis dizer, ligação para outro país...
- Oxe, e eu vou ligar para outro país pra que? Eu não entendo nada que esse povo gringo fala. Maluquice...
- Então não compreendo porque sua conta veio tão alta...
- Porque eu liguei para aquele programa que faz umas perguntas bem bestinhas pra gente ganhar dinheiro. Acredita que, depois de ficar meia hora esperando na linha, respondi tudo certinho e, na hora da última pergunta, a ligação caiu?
- Sério?
- Sim. Em vez de ganhar dinheiro, recebi uma conta de quinhentos reais de vocês. Agora me responda com sinceridade: no meu lugar você também não ia querer cancelar essa porcaria toda?
- Na verdade não, senhora. 
- Você fala isso porque deve ter ganho uma parte desse dinheiro que tive que pagar! Senão queria ver ainda defender essa internet! Inclusive, já tem uns dez minutos que você me enrola nessa ligação. Isso é para eu pagar outra conta alta, né? Pois também não vou cancelar com você! Vou desligar e ligar num horário que você não esteja trabalhando. Pensando o que? Querendo pagar sua internet com meu dinheiro...
E desligou, deixando a atendente se perguntando porque não havia escolhido outra profissão menos complicada, tipo físico nuclear.

O Bebê Chorão



Fabio Festança estava sentado, com sua cervejinha ao lado, ouvindo o som que saía dos potentes alto-falantes do seu carro. 
Foi aí que o estranho problema começou. 
Um rapaz baixinho, “troncudo” e ostentando um belo bigode, se aproximou com um bebê, que chorava muito, no colo. 
Até aí, normal. Afinal, bebês chorando não são novidade para ninguém que já tenha a oportunidade de ter visto um de perto. 
O que causou estranheza foi o fato do rapaz, em meio a tanto espaço livre, sentar com o bebê aos berros, justamente ao lado de Fabio Festança. 
Ele estranhou mas, como não era o dono da rua, não podia reclamar. 
Pegou o controle remoto e abaixou um pouco o som do carro. 
A criança berrava em uma altura que parecia impossível para alguém tão pequeno. 
Após quase quinze minutos de choradeira, a criança finalmente dormiu. 
O rapaz “troncudo” então, levantou-se e entrou em uma casa ao lado. 
Fabio Festança não entendeu nada mas, também não se preocupou com o assunto. 
Voltou a aumentar o som e beber sua cerveja. 
Por volta de meia hora depois, eis que o rapaz “troncudo” retornou com seu bebê chorando e, mais uma vez, sentou ao lado de Fabio. 
O Festança, incomodado com o berreiro da criança, levantou e sentou-se em uma cadeira mais afastada. Porém, para sua surpresa, o rapaz o seguiu e voltou a sentar ao seu lado, com a criança chorosa. 
Contrariado, Fabio Festança pagou a conta e foi embora do bar, se livrando daquele barulho infernal. 
Eis que, uma semana depois, Festança voltou ao bar e, como sempre fazia, pediu uma cerveja e ligou o som do carro. Era um domingo a tarde e, para acompanhar a cerveja gelada, nada melhor que um pagode. 
Mas, para surpresa e descontentamento de Fabio, não demorou muito e o rapaz “troncudo” apareceu com o bebê berrando e sentou ao seu lado. 
Já meio irritado, Fabio resolveu tentar entender aquele estranho comportamento. 
- O senhor precisa de alguma coisa? – perguntou. 
O rapaz, após pensar um pouco, respondeu:
- Na verdade, sim. O senhor pode, por favor, destampar essa mamadeira?
Fabio destampou e, ainda sem entender nada, assistiu ao rapaz, calma e tranquilamente alimentar a criança que, após estar satisfeita, dormiu. 
O rapaz agradeceu, levantou e entrou na casa ao lado. 
Pensando na quantidade de malucos a solta pelo mundo, Fabio pediu outra cerveja. 
Passados aproximadamente vinte minutos, adivinhem, lá vem o rapaz “troncudo” novamente com o bebê chorando e sentou-se ao lado de Festança. 
E tome a criança berrar ao lado de Fabio e o rapaz, permanecia ninando a criança tranquilamente, como se nada de diferente estivesse acontecendo. 
Fabio Festança então, de forma decidida, desligou o som do carro e confrontou o rapaz para ver se, finalmente fazia com que ele se tocasse no quanto estava sendo desagradável e inconveniente:
- Chora muito esse bebê, não é?
- É, rapaz. Toda vez que acorda é esse berreiro horrível. 
- E, sempre que ele acorda, você o traz aqui para o bar?
- Não – respondeu tranquilamente, o rapaz – só trago quando o senhor está aqui. 
- E o senhor pode me explicar então o motivo pelo qual, toda vez que eu estou aqui, este bebê é trazido para chorar ao meu lado?
- Posso sim. 
- Então, em nome de Deus, explique!
- É que, normalmente, ele dorme a tarde toda e só acorda lá pelas seis horas. 
- E onde eu entro nessa história?
- Minha esposa se queixa muito do chororô e exige que eu ajude nessas horas. Está certa ela, né?
- Até que está...
- Ela diz que, temos que dividir esse tipo de responsabilidade...
- Ainda não entendi que raios eu tenho a ver com isso. 
- É que, como quem sempre está acordando o bebê é esse seu som infernal, eu decidi que o senhor também tem que dividir esse barulho comigo. Aliás, já que acorda a criança e me obriga a vir aqui para fora, podia ao menos me oferecer um copo de cerveja, para me ajudar a suportar todo esse barulho...

Os Suspiros



Valéria Valentia não era delicada. 
Nem um pouco delicada. 
Conhecida por não ter medo de cara feia e, dizem as línguas do povo, ser descendente de Maria Bonita, Valéria Valentia não era chegada a frescuras e carinhos. 
Por isso mesmo não era vista com namoricos desde 1991 quando, após descobrir estar sendo traída por Ciro Cínico, ganhou sua fama de valente ao colocar para correr Ciro, Sandra Saidinha, a amante, o pai da mesma, o pai do cínico Ciro e até mesmo o cachorro Pitbull de Sandra, sozinha e munida apenas de um cortador de unhas. 
Os homens até reconheciam sua grande beleza mas, tinham medo da moça. 
Não que ela se importasse. 
Não mesmo. Valéria Valentia tinha mais o que fazer do que ficar de desfrutes com aqueles frouxos da cidade. 
Edson Exibido gostava de mostrar que era “o tal”.
Comprou um carro, rebaixou o possante e colocou luz neon em tudo quanto era lugar que fosse possível colocar. 
A noite, parecia um disco voador voando baixo pelas ruas da cidade. 
Tão baixo que ficou impraticável. 
Nas ruas esburacadas e lotadas de quebra molas, o “disco voador” de Edson, levava em torno de duas horas um trajeto que uma pessoa a pé faria em dez minutos. 
Por isso, o Exibido comprou uma motocicleta verde limão com detalhes em vermelho, escapamento furado para fazer bastante barulho e de fácil aceleração. 
A noite, ele parava a moto na praça e acelerava sem sair do lugar apenas para fazer aquele som característico que, no fundo, desagradava até o próprio Edson. 
Durante o dia, passava as muitas horas livres “empinando” a motocicleta pelas ruas. 
Por coincidência (ou não) uma das vias onde o Exibido mais gostava de se exibir era justamente onde morava Valéria Valentia. 
E, como dizia o pastor, aí é que estava o mistério: toda vez que o Exibido se exibia, a Valentia ia para a janela olhar atenta para tais peripécias. 
Ninguém entendia o porque de, entre tantos homens mais promissores, Valéria parecia mostrar interesse justamente naquele sujeito. 
Edson, que não era cego e nem bobo, já havia percebido os olhares da bela e arredia moça para suas proezas motociclísticas e, por isso mesmo, passou a fazer das suas peraltices cada vez mais na rua onde ela morava. 
Com o tempo, para desespero dos vizinhos, Edson Exibido transformou a prática em rotina: todos os dias mais ou menos no mesmo horário, a motocicleta surgia com manobras cada vez mais arriscadas e ousadas. 
E, todos os dias Valéria Valentia lá estava, em sua janela a observar. 
Leôncio Lerdeza era o único amigo em comum que eles tinham e, por isso, o Exibido naturalmente o procurou para “intermediar” um futuro encontro. 
Mas, tão grande quanto o barulho que sua moto faz, foi a surpresa com a resposta do amigo Lerdeza. 
- Acho melhor não. Para o bem de sua saúde, sabe?
Sem entender, o Exibido explicou de forma clara a fascinação da moça pelas suas proezas em duas rodas e como ela o enamorava com os olhos todas as tardes. 
Lerdeza, com toda sua lentidão, então explicou:
- Valéria Valentia vai todos os dias para a janela ver você “empinar” e torcer...
- Isso!
- ... para você cair e se arrebentar todo. Inclusive, ela tem um porrete com seu nome pintado que é para o dia que te encontrar na rua, sem a moto. 
Misteriosamente, para a felicidade da vizinhança, a partir deste dia Edson Exibido e sua discreta motocicleta nunca mais foram vistos nas imediações da Rua Rosa Rasa, onde residia Valéria Valentia, a mulher que batizava porretes e espantava motoqueiros.

Caso Macabro



Antes de começar a contar este causo, gostaria de deixar uma coisa bem clara: eu até invento mas não aumento e tudo que conto não só é verídico como também é a mais pura verdade, registrada em ata de cartório e tudo mais. 
Uma vez esclarecido, de forma clara e sem gema, vamos ao causo. 
A primeira vez que Caetano Caninha foi ao Tô Tonto Bar, aconteceu por intermédio, sugestão e incentivo de seu vizinho, Gláucio Garçom, que trabalhava neste conceituado, renomado e mal tratado estabelecimento. 
Gostou tanto que passou a ir lá quase todos os dias do ano. 
Digo quase porque, havia um determinado dia em que Caninha não saia de casa a noite por nenhuma causa, razão, situação ou circunstância, que era a noite de Finados. 
Para Caetano Caninha, era noite de mau agouro onde, os espíritos e as almas dos mortos passeavam a procura dos entes queridos que não foram prestar contas e homenagens aos falecidos, neste dia. 
É, porém, mas, todavia, entretanto, no distante ano de 2021, por um esquecimento ou por um acidente do destino, eis que o Caninha esqueceu do dia em que o calendário apontava e, não só ficou bebendo no Tô Tonto Bar, como o fez até próximo da tenebrosa hora da meia noite. 
Ao perceber o erro, engano e falha que lamentavelmente tinha cometido, eis que o Caetano de forma amedrontada e apressada, pagou a conta e andou quase que correndo para sua casa. Eram aproximadamente vinte minutos de caminhada normal em uma estrada escura e cercada por um grande matagal, iluminada somente pela luz da lua de nosso São Jorge, padroeiro de todo homem que, bêbado ou sóbrio, encara sem medo e de forma destemida o dragão. 
Falo que são vinte minutos de caminhada normal porque existem quatro tipos de formas de caminhar, a saber:
Caminhada Preguiça: é aquela que costumamos dar às segundas feiras quando estamos indo trabalhar, ainda com lembranças e efeitos da praia, churrasco e cachaçada do domingo; Caminhada Normal: é a caminhada que damos quando não temos pressa, preguiça ou urgência; Caminhada Derrela: essa você dá, de forma desesperada de qualquer lugar até o trono do banheiro; Caminhada do Terror: basicamente o tipo de caminhada que Caetano Caninha dava naquele instante. 
A caminhada do terror costumava durar toda a eternidade pois o tempo passava a ser inversamente proporcional à pressa. 
Caetano havia caminhado por três minutos mas, em sua cabeça, pelo menos trinta minutos já haviam se passado. Qualquer folha balançada pelo vento era um susto. 
Aterrorizado e se maldizendo por ter se metido naquela situação, Caninha respirava fundo, orava, rezava, fazia preces e promessas. 
Mas, para piorar a situação, eis que uma voz foi trazida pelo vento e, seu lamento sinistro chamava por seu nome:
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo!
Na primeira vez em que ouviu seu nome, Caninha riu nervoso. 
- São meus nervos. 
Mas, passados alguns segundos, a voz sinistra voltou a ecoar. 
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, me espereeeeeee!
Neste exato momento, Caninha inaugurou uma nova forma de caminhada: a Derrela do Terror. E, posso dizer sem nenhum medo de errar que, nunca nenhum ser humano conseguiu fazer tantas preces em tão pouco tempo. 
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, você me ouve?
A voz, parecia ser familiar e, por isso, o Caninha começou a cogitar qual das almas já desencarnadas poderia ser a responsável por aquela assombração. 
- Será que foi o Agnaldo Agiota, que morreu sem eu pagar o empréstimo? Ou a Beth Bonitinha que queria aquele Dna? Talvez o Cláudio Canalha que o processava por aquela sociedade que não deu certo? Ou o Fábio Fininho que vivia jurando vingança daquela surra que tomou?
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, cadê você? Aqui está escuro e não consigo te ver!
Nisso, os joelhos do Caninha se dobraram. Não pela fé mas, pela força do medo. 
Aproveitando que já estava na posição adequada, pediu a Deus e a todos a que passaram desta para melhor ressentidos com sua pessoa, que o perdoassem por tudo e qualquer coisa que houvesse feito. 
Foi neste momento de redenção que, uma mão fria acompanhada de uma respiração ofegante, alcançou seu ombro. 
- Finalmente alcancei você, Caetano – disse a voz. 
- Desconjuro! Vade retro, coisa ruim! Se afasta em nome de Jesus, alma sebosa!
Uma risada sinistra se fez ouvir no vazio da noite sem lua, arrepiando até a alma do finado tataravô de Caetano Caninha e quase fazendo o coitado desmaiar de pavor. 
- Tú tá doido homem? Sou eu, seu vizinho, Gláucio Garçom. 
- Você quer me matar de susto, cabra doido? O que está fazendo me chamando desse jeito, nessa escuridão?
- É que você esqueceu seu troco e sua carteira na mesa do bar e, como já estava no fim do plantão, resolvi correr atrás de você para devolver e aproveitar a companhia na caminhada até em casa. 
- Quase me mata do coração...
- E que cheiro estranho é esse?
- É o cheiro do alívio – sorriu amarelo Caninha, que agora só pensava em papel higiênico.

Não Ficou Legal



Vânia Vaidosa olhou a si mesma e não gostou do que viu. 
- Gostei não – falou fazendo uma careta. 
Paulo Paciência suspirou. 
- Experimenta outro então. 
Falou por falar pois, já sabia que a esposa experimentaria, ele falando ou não. 
A vendedora trouxe outra peça. 
Vânia Vaidosa tornou a se admirar no grande espelho e, após alguns segundos, respirou intensamente e concluiu:
- Gostei desse também não. 
Novo suspiro de Paulo Paciência e um sorriso amarelo da vendedora. 
Logo, outra peça foi trazida. 
Vânia Vaidosa colocou as mãos na cintura e decretou:
- Me deixou gorda. 
A simpática vendedora trouxe outra peça menor. 
Vânia Vaidosa demorou um pouco mais desta vez. 
Olhou, olhou, olhou novamente, olhou mais uma vez...
- Achei feio. 
Paulo Paciência já mais envergonhado que paciente, falou:
- O jeito é experimentar outro. 
A vendedora, mais paciente que Paulo Paciência, providenciou outra peça. 
Vânia Vaidosa, mais uma vez encarou o espelho. 
- Tem outro? Não gostei dos detalhes...
E assim foi com pouco mais de uma dezena de peças. 
Paulo Paciência, que já havia perdido a paciência, saiu para tomar um chopp na praça de alimentação e a vendedora, já não tão sorridente e com ar de cansada, passava a  demonstrar uma certa pressa afinal, quem ganha por comissão não pode demorar tanto tempo com um cliente só. 
Não dá para saber se por ter gostado ou se por acanhamento mas, quando Paulo Paciência voltou meio bêbado, Vânia Vaidosa finalmente se decidiu por um bordadinho meio amarelado e até sem graça, para dizer a verdade. 
Após a compra efetuada, na saída da loja, Vânia Vaidosa comentou com o marido:
- Eu nem gostei muito mas, fiquei sem graça de olhar tantos e não comprar nenhum. 
Com toda paciência que ainda havia restado, Paulo Paciência apenas respondeu:
- Eu não entendo para que escolher tanto. Espelho é tudo igual mesmo: um pedaço de vidro com uma moldura ao redor. 
Vânia Vaidosa preferiu não responder. 
Homem não entende nada de decoração.

Falo Porque Sei



Vou falar só uma vez portanto, preste atenção porque não sou homem de ficar perdendo tempo me repetindo. 
Eu ando vendo um monte de conversinhas e discussões nas redes sociais sobre alguns assuntos que nem eram para estar sendo discutidos, de tão óbvios que são. 
Terra redonda ou Terra plana? É óbvio que a Terra é reta e plana!
Se não fosse assim, teria gente que iria viver de cabeça para baixo ou então iria cair. Ou teríamos metade da humanidade vivendo pendurados de cabeça para baixo igual a morcegos ou então teríamos que ter muita cola Super Bonder para grudar todos aqueles chineses no chão. Ou será que é por isso que eles comem os morcegos? Para absorver sua capacidade de viver de cabeça para baixo, tipo o Homem Aranha fez com a bichinha que o mordeu... Taí, vou pesquisar isso depois.
Quem gira ao redor de quem? Outra discussão ridícula! É claro que o sol gira ao redor da Terra! É só olhar para o céu e você vai perceber isso. Se a Terra girasse ao redor do sol nós veríamos o outro lado da bola de fogo e, na verdade, só vemos o mesmo lado todos os dias. Aliás, a Terra sendo plana e quadrada, não tem como girar. 
Vacina? Nem vou comentar! Essa coisa do demônio é uma invenção para colocar um chip na população e ter controle sobre todo mundo. 
Já que estou falando de vacina, vou acrescentar que esse negócio de covid nem existe! Os governantes, numa dessas reuniões que eles fazem, bolaram isso para poder lucrar. 
E, se por acaso existir, foi criada pelos comunistas como uma arma química mas, eles são tão burros que perderam o controle da coisa e mataram a própria população. 
Isso é tão claro que eu não entendo como ainda se discute. 
Homem na lua? Para que tá feio! Se um astronauta foi na lua, como é que não encontrou o São Jorge? Tem que ser muito bobo para acreditar num absurdo desses. 
E ainda querem me convencer que eles estavam lá durante o dia! Só rindo de um negócio desses. Todo mundo sabe que só dá para ver a lua durante a noite. De dia eles nem iriam conseguir chegar lá porque não iam achar a bichinha. 
Outra lorota que não aceito é a de que o homem vem do macaco. Em minha família, por exemplo, temos fotos até de meu trisavô e posso garantir: ele não tem rabo e nem vivia trepado em árvores. A gente até gosta de banana mas, as semelhanças param por aí... Aliás, já vou avisando que o próximo que disser que eu venho do macaco, vai ser processado por racismo. Só falta dizerem que Adão e Eva eram dois micos...
Dinossauros! Querem me convencer que tinham lagartixas do tamanho de prédios andando por aí! Se eles existiram porque não estavam na arca de Noé? Noé nem se preocupou em fazer uma arca maior porque sabia que esses bichos não existiam. 
Imagine um petshop para vender coleiras para esses monstros...
Agora, lá na lua era capaz de ter porque São Jorge está lá brigando contra um dragão e todos sabem que dragão é um tipo de dinossauro que cospe fogo, tipo como quando a gente come pimenta daquelas bem fortes. 
Outro dia, apareceu um maluco aqui dizendo que trabalhava para uma empresa que queria saber quantos brasileiros tinham no Brasil. Nem dei atenção. 
Os caras fazem umas pesquisas que dizem que a torcida do Bahia é menor que a do Flamengo e querem que eu acredite que vão conseguir contar os brasileiros. 
Tenho uma prima, por exemplo, que não falou ao cara do senso que tinha duas filhas porque ficou com medo do governo descobrir que o pai não era seu marido. 
Ou seja: por causa de um corno, a conta já não ia bater certo. 
Enfim, eu poderia ficar aqui por várias horas mostrando o quanto essas besteiras de história e ciências não tem sentido mas, prefiro parar por aqui porque não gosto de polêmicas e nem de discutir com gente ignorante das coisas. 
E nem adianta vir aqui querer argumentar porque, a rede social é minha e eu escrevo o que quiser. E outra: quem é você para querer discutir comigo?
Eu pesquisei sobre tudo isso que estou falando em fontes confiáveis. 
Ou você se acha tão inteligente ao ponto de saber mais que o WhatsApp, o Google e a Wikipédia? Se achar isso me perdoe mas, além de burro e desinformado, você é muito arrogante e, de gente mal informada que acha que sabe de tudo, eu quero distância.

As Princesas



Cinco princesas dos contos de fadas se reuniram em um barzinho para conversar sobre suas aventuras e desventuras. Na verdade, quatro pois, uma se atrasou. 
- Minha vida daria um filme – disse Rapunzel, enquanto foleava uma revista de cortes de cabelo – porque passei por poucas e boas: fiquei presa em uma torre, sem ar condicionado, com goteiras no teto, pagando IPTU caríssimo e, ainda por cima, tendo que aturar um príncipe bombado, pesado e tão casquinha que nunca se movimentou para sequer comprar uma escada! E, para completar, ainda tive que pagar o tratamento do dito cujo, que estava ficando cego. O resultado é que fui despejada pela minha madrasta e fui morar em um castelo enorme, que começo a limpar na segunda feira e só termino na sexta. 
Todas as outras princesas concordaram que a vida era difícil para Rapunzel. 
- Não que minha vida tenha sido fácil – falou Cinderela, enquanto limpava a mesa do bar, com uma flanela – meu pai morreu e me deixou como dependente de minha madrasta e as duas filhas mocreias dela. Eu lavava, passava, varria e cozinhava, por menos de um salário mínimo. Um dia teve uma festa e, juntando todas as minhas economias, comprei um vestido e peguei um par de sapatinhos emprestado com minha madrinha. Quando eu estava dançando com o príncipe gatinho, tive uma dor de barriga e precisei sair correndo da festa. Nisso, tropecei e perdi um pé do sapato. Imaginem que saia justa quando vi na internet que estavam procurando a dona do calçado! Minha madrinha ficou furiosa comigo. Hoje, estou casada com o príncipe e ainda tenho que sustentar a madrasta, as filhas dela e a madrinha...
Todas concordaram que a vida de Cinderela também não tinha sido nada fácil. 
- Eu também passei por maus bocados – começou Branca de Neve, enquanto mordia uma maçã – tive que fugir de casa porque a doida da minha madrasta ficava conversando com o espelho e dizendo que tinha raiva de minha beleza e fui trabalhar em um asilo tomando conta de sete velhinhos que viviam me paquerando. Eu também lavava, passava, costurava, varria, cozinhava e ainda tinha que aturar os velhotes cantando o dia todo. No dia em que consegui um tempo para dormir, vem meu namorado príncipe e me acorda. Sorte teve a Bela Adormecida que teve todo tempo do mundo para dormir...
Todas concordaram que as coisas foram complicadas para Branca de Neve. 
- Meu caso também é triste – ponderou Fiona, enquanto degustava uma salada de cebola – eu era uma princesa feliz e, sei lá porque, resolvi fugir com um carinha. Aí meu pai mandou outro me levar de volta e acabei caindo na lábia dele. Resultado: hoje estou cheia de filhos, meu marido é um verdadeiro ogro, o melhor amigo dele é um burro sem noção casado com uma mulher horrorosa que parece um dragão e ainda fui morar num bairro de periferia. Ando tão desgostosa que engordei e estou parecendo uma ogra também. 
Todas concordaram que as coisas foram feias para Fiona. 
Nesse clima de tristeza, a quinta princesa chegou ao barzinho.
- Perdoem o atraso – desculpou-se a princesa Jurema, enquanto tirava lama do solado da sandália – mas vir do Brasil pra cá é complicado: moro no alto de um morro onde vive faltando água (imaginem subir e descer com uma lata dágua na cabeça), tem tiroteio quatro vezes por dia e a internet, péssima por sinal, é fornecida por traficantes. Moro com um marido preguiçoso e sustento ele, sete filhos, minha mãe, a sogra e o cunhado, com um salário mínimo. Não fui aprovada no auxílio emergencial do governo porque sou uma princesa, tenho vizinhos barulhentos, acordo às quatro e meia da manhã para ir trabalhar, pego ônibus lotado e, quando volto para casa, ainda tenho que cozinhar para toda essa cambada. Lá na quebrada sou conhecida como Jurema, a princesa da favela. Ah, e ainda inventei de torcer para o Botafogo! Vivo a base de calmantes e cachaça, para não enlouquecer. Mas, do que vocês falavam?
Ninguém comentou mas, todas silenciosamente concordaram que Jurema era muito exagerada. 
Moral da história: no dos outros é sempre refrescante, mesmo quando apimentado.

Chato Pra Valer



- Boa tarde. Procuro o chato pra valer. 
O atendente coçou a cabeça. 
- Desculpe senhor, mas não entendi. 
- Vim comprar um chato pra valer. 
- Senhor, não sei se percebeu mas, aqui é uma loja de bebidas. 
- Eu sei. Foi isso que meu patrão me disse: vá na loja de bebidas e traga um chato pra valer. Vocês tem ou não tem?
- Infelizmente não, senhor. 
Saiu contrariado e foi em outra loja. 
- Um chato pra valer, por favor. 
- Perdão?
- Perdoo sim. E o chato?
- Bom – falou o atendente, coçando o queixo – tem o Haroldo, que é bem chatinho...
- Pois me dá uma garrafa. 
- É que ele é bem gordinho e não vai caber em uma garrafa. Creio que nem em um túnel aquele sujeito é capaz de caber. 
- Meu patrão não me deu dinheiro para um barril não... – falou contando um bolo de notas amarrotadas que tirou do bolso. 
Partiu então para a terceira loja. 
- Um chato pra valer, por obséquio. 
- Hein?
- Um cha-to pra va-ler – falou pausadamente. 
- Isso é uma pegadinha?
- Eu tenho cara de Silvio Santos?
Saiu e procurou a quarta loja. 
- Um chato pra valer, tem?
- Só alguns clientes...
E assim foi durante toda a tarde. 
Lojas de bebidas, restaurantes, botecos, bares, depósitos e bibocas, ninguém tinha e nem sabiam do que se tratava. 
Cansado de procurar sem achar, parou na sua biboca preferida e pediu uma cerveja.
- Um absurdo, seu Joaquim! Rodei a cidade toda e vou voltar sem a bebida. 
Compadecido, Joaquim quis saber que bebida era aquela que, de tão rara, não vendia na cidade e ninguém sabia de sua existência.
 - Chato pra valer – repetiu pela enésima vez. 
Joaquim alisou a ponta do bigode. 
- Realmente desconheço essa bebida... Você deveria ter pedido por escrito. 
Achou a ideia meio boba afinal, escrito ou falado, um chato pra valer é um chato pra valer mas, pelo sim ou pelo não, “ mandou um ZAP” para o patrão. 
Quando a resposta chegou, mostrou a Joaquim que sorriu e disse:
- Eu sei onde tem esse chato pra valer! Me dê um trocado a mais que trago para você em dez minutos. 
Pela curiosidade e para se livrar daquela peregrinação, aceitou a proposta. 
Joaquim saiu e voltou em menos de dez minutos, com uma garrafa embrulhada em um saco de mercado. 
- Tem certeza que é isso mesmo?
- Certeza absoluta!
Feliz e satisfeito, voltou para seu patrão e, orgulhoso pela sua suposta eficiência, entregou-lhe a garrafa. 
O patrão a retirou do saco e pegando dois copos, falou:
- Graças a Deus você achou! Não posso passar o fim de semana sem a minha bebida preferida: adoro um bom Chateou Duvalier. Eita vinho bom!

Ficou Feia



Ajeitei o celular, procurando o melhor ângulo, e cliquei. 
Sim, cliquei. Porque sou velho e nostálgico e coloquei propositalmente o barulhinho saudoso do clique das antigas máquinas fotográficas. 
Olhei o visor do celular e fiquei sinceramente satisfeito com o resultado. 
A pessoa fotografada, que não por coincidência, é minha esposa, olhou a foto fez uma careta e comentou:
- Gostei não. Fiquei feia. 
Peguei novamente o celular, caprichei no ângulo, medi direitinho a distância, enquadrei minha digníssima e cliquei mais uma vez. 
Realmente ficou uma obra de arte. 
A paisagem, a beleza natural de minha cutcut e o talento do fotógrafo formaram uma verdadeira perfeição em forma de fotografia. 
Feliz e empolgado, mostrei a minha companheira. 
Ela olhou, franziu uma sobrancelha e falou:
- Fiquei gorda. Tira outra. 
Tornei a olhar a foto e, intimamente, discordei mas, preferi nada dizer. 
Tomei um pouco mais de distância, fiz um melhor enquadramento e cliquei. 
Admito que, quando olhei a nova foto, tive que concordar que a anterior não estava tão perfeita assim. 
Mas essa, essa estava perfeita!
Orgulhoso, entreguei o celular a minha thuca e aguardei os agradecimentos. 
Ela, coçou a cabeça e falou:
- Meu cabelo ficou feio. Tira outra. 
Agora tinha virado questão de honra!
Ajeitei o brilho, o zoom, o enquadramento, o flash e, tornei a clicar. 
Vou te dizer sem modéstia: nem Leonardo da Vinci faria um quadro melhor. 
Com aquela cara de “quero ver você botar defeito agora”, tornei a entregar o celular a minha digníssima. 
Ela olhou, sorriu e disse:
- Minha roupa ficou desarrumada. Tira outra. 
Respirei fundo, fiz uma oração a Santa Verônica de Jerusalém, padroeira dos fotógrafos e me posicionei para tirar uma nova foto. 
Desta vez levei uns cinco minutos ajeitando tudo para tirar a foto mais que perfeita. 
Tirei a foto mais espetacular da história! Tudo simplesmente impecável, lindo, maravilhoso e perfeito. 
Entreguei uma outra vez o celular a minha amada. 
Ela olhou, fez uma careta, levantou uma sobrancelha, sorriu e, finalmente falou:
- Essa ficou até bonitinha. 
Respirei aliviado afinal, melhor “bonitinha” que ter que tirar outra foto. 
- Ótimo! Agora podemos continuar o passeio? – perguntei satisfeito. 
- Claro que não – respondeu minha bilubilu – Essas fotos foram só para testar. Agora que vou me ajeitar para tirar a foto de verdade. E vê se tira uma melhor que essas. 
Sorri amarelo para que, a vontade de chorar não ficasse transparente.

Uma Longa Caminhada



Olegário olhou para frente e mediu mentalmente a distância. 
- Não é tão longe assim – pensou. 
Calçou as sandálias e deu os primeiros passos. 
Se sentiu como um dos antigos desbravadores a explorar uma nova terra. 
Ou, talvez, um viajante perdido no Polo Norte. 
Deu mais alguns passos e parou para respirar. O calor estava sufocante. 
Pensou no esforço que os beduínos fazem para sobreviver no Saara. 
Tirou um lenço do bolso e enxugou a testa. 
- Preciso de uma dieta, urgente. 
Olhou para baixo e percebeu que já não enxergava mais os próprios pés. 
Deu mais alguns passos e teve que sentar no chão. 
Estava tonto. 
Mas, Olegário é brasileiro e, desistir não é uma opção. 
Pensou em ligar para a esposa mas, abandonou a ideia. 
Mostraria a si mesmo que era forte e conseguiria chegar sem ajuda. 
Mais alguns passos e a garganta já estava seca. 
Olegário, ofegante, dava passos cada vez mais sofridos. 
- Maldito sedentarismo. 
Desde que comprou aquele carro, deixou de ser uma pessoa ativa. 
Se precisasse ir na esquina, só ia se fosse de carro. 
Agora, sentia o peso daquela caminhada. 
Andou mais um pouco e começou a sentir dores no joelho. 
Mais uma lembrança dos tempos em que era mais ativo e jogava futebol. 
Época onde era conhecido como “Olé, o matador”! Atacante rápido e cirúrgico. 
Bons tempos. 
Agora estava mais para “ Olé, o degustador”. 
Calculou que tinha andado um quarto do caminho. 
Se já era um quarto ou ainda era um quarto, dependeria do ponto de vista. 
Para Olegário, tinha andado uma eternidade e ainda faltava muito. 
Sorte que não tinha sol para piorar a situação porque, se tivesse, Olegário não sabia dizer se conseguiria chegar ao final. 
Quando chegou na metade do caminho, Olegário já pensava em desistir. 
A garganta estava seca, a perna tremia, o joelho doía...
Mas, passo a passo, o heróico Olegário se aproximava do objetivo. 
Quando, “ a trancos e barrancos”, finalmente conseguiu chegar, Olegário se jogou em uma cadeira e tentou recuperar o fôlego. 
A esposa, ao ver aquela cena, preocupou-se. 
- Você está bem, homem?
- Estou cansado, dolorido e tonto. 
A esposa o encarou e, contrariada, comentou com ar de irritação:
- Todo esse drama para caminhar do quarto até a cozinha! Que situação!
Olegário até tentou responder mas, estava muito ocupado tentando respirar.

Tem Algo Errado Aqui


Verbenia nunca conseguia chegar cedo em lugar nenhum. 
Não importa dia, horário ou local; não importa se saía mais cedo de casa ou se o compromisso era do outro lado da rua: Verbenia chegava atrasada. 
No funeral do compadre Tilico Teiú não foi diferente. 
Verbenia chegou com quase quarenta minutos de atraso e o enterro já havia sido realizado, restando apenas um homem de pé em frente a cova. 
- Olá – falou baixinho e meio sem graça, Verbenia. 
- Olá – respondeu o homem. 
- Um amor de pessoa... Uma pena ter morrido. 
O homem a olhou com cara de surpresa. 
- Esse sujeito não valia nada. 
Verbenia estranhou afinal, não sabia que alguém achava isso do pobre Tilico. 
Teiú era um cara muito querido por todos. 
- O senhor tinha problemas com ele?
- Eu não. Evitava contato. 
Ficaram um tempo em silêncio, até que Verbenia tornou a falar:
- Era muito honesto e morreu com o nome limpo. 
- Conheço pelo menos sete pessoas que tomaram calote dele. 
Verbenia estava decepcionada. 
Nunca pensou que seu amigo se comportasse desse jeito. 
- Bom, pelo menos fiel ele era! A vida toda com uma mesma mulher não é para qualquer sujeito não. Concorda?
O homem olhou sério para Verbenia. 
- Tinham três viúvas dele aqui hoje. Até brigaram e uma rasgou a roupa da outra. 
Verbenia começou a ficar com medo. Estaria lidando com um doido?
- Mas o cara era trabalhador que só. Chegou a ter três empregos de uma vez só. 
- Só se trabalhava sonhando. Dormia o dia todo, esse vagabundo. 
- Mas de futebol ele gostava muito!
- Finalmente concordamos – falou o homem, meio desinteressado. 
Agora Verbenia começava a ver alguma normalidade naquela conversa. 
- Torcedor fanático do Corinthians – completou Verbenia. 
O homem a olhou com ar de surpresa. 
- Desde quando?
- Desde que nasceu, ora!
- E porque enterraram ele com a bandeira do Grêmio?
Verbenia agora estava perplexa. 
- Mas de carros o senhor sabe que ele era amante!
- Só se fosse para olhar porque, nem carteira de motorista tinha. 
Verbenia encarou fixamente o homem e, fez a pergunta que todos devem estar se fazendo neste momento:
- O senhor não veio ao enterro errado? 
- Creio que não. 
- Porque parece que o senhor não conhecia o pobre Tilico Teiú!
- E não conheço mesmo! Até porque esse aqui é o funeral de Oriano Otávio. 
- Como assim? Essa não é a cova trinta e sete do Cemitério Futuro de Todos?
- Sim, essa é a cova trinta e sete...
- Então?
- ... do Cemitério Vá em Paz. O que a senhora procura é do outro lado da cidade. 
Verbenia sorriu e disse:
- E é, menino? Bem que eu desconfiei que tinha alguma coisa errada com esse portal na entrada. Achei que tinham reformado...

O Playpobre



Aqui onde moro temos dois tipos de jovens: os playboys e os playpobres. 
Os playboys são uns carinhas de classe média baixa que pensam que são ricos;
Os playpobres são uns carinhas pobres que pensam que são classe média;
Os playboys andam com camisas de marcas famosas, caríssimas, cujas compras são divididas em, no mínimo, dez parcelas no cartão do pai;
Os playpobres usam camisas com as mesmas marcas, compradas no camelô e, quando questionados sobre a procedência, dizem que usam roupas de “primeira linha”;
Os playboys colocam sons superpotentes em seus carros financiados e ouvem músicas de gosto duvidoso no último volume;
Os playpobres compram caixinhas de som estridentes e ouvem as mesmas músicas em um volume não tão alto mas, igualmente incômodo;
O playboy assina canal fechado para assistir Big Brother;
O playpobre compra aparelho pirata e assiste jornal sensacionalista;
O playboy bebe whisky falsificado e cerveja amarga;
O playpobre bebe vinho São Jorge e cachaça com limão;
O playboy imita o corte de cabelo das celebridades;
O playpobre imita o corte do Neymar;
Playboy vai a praia surfar;
Playpobre vai a praia descer até o chão ouvindo funk;
Playboy fala um inglês que só ele entende;
Playpobre imita o sotaque paulista;
Playboy, quando vê uma câmera de TV, esconde o rosto para se sentir celebridade;
Playpobre, quando vê uma câmera de TV, esconde o rosto para o agiota não ver que está na rua gastando dinheiro;
Playboy usa Havaiana e diz que isso é chique;
Playpobre usa Ipanema e diz que é Havaiana;
Playboy usa Havaiana porque comprou barato no camelô;
Playpobre usa Ipanema porque a grana não dá para comprar Havaiana no camelô;
Playboy almoça no restaurante da esquina e posta foto dizendo que está em um restaurante caro;
Playpobre almoça na casa da sogra e posta fotos dizendo que “hoje resolveu comer comida caseira”;
Playboy viaja nas férias com o dinheiro do mercado do mês;
Playpobre não viaja nas férias porque o dinheiro do benefício social não dá;
Playboy vive de aparência;
Playpobre vive de empréstimo;
Ambos vivem de ilusão.

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...